No dia de hoje, 29 de agosto, a tradição cristã recorda o martírio de São João Batista, o maior entre os nascidos de mulher, segundo o elogio do próprio Messias. Ele prestou a Deus o testemunho supremo do sangue, imolando a sua existência pela verdade e a justiça. Com efeito, foi decapitado por ordem de Herodes, a quem tinha ousado dizer que não era lícito se casar com a mulher do seu irmão, como acabamos de ouvir no texto sagrado.
Falando da morte de João Batista, o Papa João Paulo II afirmou na Carta Encíclica Veritatis Splendor (cf. n. 91) que o martírio constitui um sinal preclaro da santidade da Igreja. Efetivamente, ele “representa o ponto mais alto do testemunho a favor da verdade moral”.
Se são relativamente poucas as pessoas chamadas ao sacrifício supremo, há porém um testemunho coerente que todos os cristãos devem estar prontos a dar a cada dia, mesmo à custa de sofrimentos e de graves sacrifícios. Assim, você, meu irmão, não pode nem deve fugir.
Gostaria que soubesse que, desde o início do Cristianismo, percebemos que três elementos estão quase sempre unidos: testemunho, profecia e doação da própria vida. É verdadeiramente necessário um compromisso com estas três vias – por vezes heroicas – para não ceder, até mesmo na vida cotidiana: em casa com o marido, com os filhos, colegas de trabalho, com os familiares de perto ou distantes. É necessário saber que as dificuldades nos levam ao compromisso para viver na totalidade o Evangelho.
O exemplo heroico de João Batista nos deve fazer pensar nos mártires da fé que, ao longo dos séculos, seguiram corajosamente as suas pegadas. De modo especial, voltemos à mente os numerosos cristãos que, no mundo inteiro, foram vítimas do ódio e da perseguição religiosa. Mesmo hoje, em algumas partes do mundo, os fiéis continuam a ser submetidos a duras provações em virtude da sua adesão a Cristo e à Sua Igreja.
Os impérios opressores que existiram na história continuaram deixando seus mártires. Seus projetos elitistas e imperialistas fizeram com que seus chefes continuassem a embriagar-se com o sangue dos mártires.
Portanto, o martírio não deve ser buscado por ninguém. Em última palavra, o martírio é uma graça de Deus. Mas, dele não se deve fugir, se é necessário dar o testemunho e para defender a vida do povo. Jesus também nos ensina que não devemos ter medo daqueles que matam o corpo. Por isso, dar a vida é a melhor forma de amor, a exemplo de Cristo, que nos amou até o extremo. O máximo do amor é dar a vida pelos seus. Deste modo, a vida não é tirada, mas é dada livremente.
Foi isso que fez São João Batista em meio à crueldade que ameaçava a fidelidade conjugal: lutou e, sendo testemunha e testemunho fiel, derramou o seu sangue pagando com a própria vida.
Ontem, como hoje, o banquete dos criminosos continua sendo regado a sangue, como foi o de Herodes – como nós ouvimos no Evangelho de hoje. Por isso, lembrar o morte de João Batista é não deixar morrer sua história, é recordar o seu testemunho, sua profecia e sua coragem. É lembrar que, se preciso for, todos devemos estar dispostos a lavar nossas vestes e as branquear no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,14).
Padre Bantu Mendonça