“Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente” (Lucas 13,11).
Quero que todos nós possamos fazer o que Jesus fez, pois Ele não só ensinava. Ensinar quer dizer que Ele olhava para a Palavra (porque Ele era a Palavra), mas olhava para Deus, para que Deus chegasse ao coração de todos.
Não basta ensinar a Palavra, é preciso que, com a Palavra, penetremos as pessoas que estão ao nosso lado porque muitas estão sofrendo. E Jesus olhou para aquela mulher em que fazia dezoito anos que sofria com o Espírito terrível a tornando uma mulher doente e encurvada… Era desprezada, uma coitada.
As pessoas olhavam as pessoas que tinham enfermidade, sobretudo, mais graves, como merecedoras, como castigo, como se elas tivessem feito algo que merecessem aquilo e, por isso, estavam pagando e não olhava com o olhar da graça nem da misericórdia, quanto menos com o olhar do amor e do cuidado.
Suplico a Deus todos os dias que me dê um olhar de misericórdia, de amor, de compaixão, de cuidado para com meu irmão
Muitas pessoas estão sofrendo porque não estão sendo olhadas, e não é para serem olhadas com “olhar de coitadas”, mas com o olhar de amor e de cuidado, porque é esse o olhar que cura e liberta, é esse o olhar que Jesus volta para essa mulher que, há dezoito anos, sofre de um espírito que a atormentava; e os religiosos da sua época não ligaram para ela. E Jesus mesmo proclamou: “Mulher, esteja livre dessa sua enfermidade”.
O chefe da sinagoga ficou furioso porque Jesus tinha curado aquela mulher em dia de sábado. O sábado representava o culto, que representa Deus. Como é que uma pessoa que ama Deus fica furiosa porque fazemos o bem ao outro?
Às vezes, queremos achar que o sagrado é apenas o culto que presto a Deus, mas, se não presto atenção ao meu irmão, que culto hipócrita presto a Deus! Que culto hipócrita é esse onde meu olhar se volta para o sacrário, para a cruz, para as coisas sagradas — e que bom que se volta —, mas esse mesmo olhar não se volta para Jesus sofredor, esse olhar não se volta para Jesus que está aqui sofrendo, passando fome e necessidade, sofrendo enfermidade e aflição. É que nós preferimos a passividade da oração, onde vou lá orar para Jesus me consolar, cuidar das minhas coisas, do meu egoísmo, me dar o que preciso e fico chateado quando Jesus não dá o que quero.
Sou incapaz de olhar para Jesus sofredor, real, em carne viva em tantos que passam debilidades e sofrimentos nos dias de hoje em nosso meio, onde nós estamos. Sou incapaz de pedir alguma coisa para Deus. Suplico a Ele todos os dias que me dê um olhar de misericórdia, de amor, de compaixão, de cuidado para com meu irmão. Não quero que Deus me cumule de bens porque, muitas vezes, o bem não é graça, é desgraça.
Fico me enchendo de coisas e começo a olhar, inclusive, as pessoas como coisas. E elas não são coisas, as pessoas são presença divina. Mas elas estão sendo descuidadas, ignorados e maltratadas, e estou vivendo aquela cegueira espiritual de entender que o culto é só eu estar na presença de Deus (e como preciso estar). Se estou na presença de Deus e não saio da presença d’Ele para ver meu irmão sofrendo, muitas vezes, dentro da igreja que estou, passando aflição e necessidade, me pergunto para que serve o nosso culto, para que serve as nossas celebrações, se falta amor e misericórdia em nosso coração?
Deus abençoe você!