20 Mar 2011

O rosto resplandecente do Ressuscitado

Estamos no tempo quaresmal. Tempo de luta com o mal, as tentações, tristezas, angústias. Gememos juntamente com o nosso planeta qual mulher entre dores do parto, conforme a Campanha da Fraternidade deste ano. A radical transformação do mundo atual para o pecado, o crime, a droga, o homossexualismo, o divórcio, o desmatamento, ou seja a agressão ao meio ambiente e tantos outros males, parece ter deixado na sombra o sentido da vida, porque se tornou incapaz de escutar “a voz do silêncio suave” (1Rs 19,12), que ressoa das profundezas da história.

Por isso, surge também a dificuldade radical de enxergar qualquer outra dimensão da realidade que esteja acima ou por dentro da experiência humana. Não é mais capaz de ler os sinais da presença de Deus na nossa vida, dando a impressão de que a realidade seja algo inconsistente e sem valor, e que, no fim das contas, a história humana não passa de uma tremenda ilusão. No entanto, olhando mais em profundidade, a experiência da tristeza e da angústia e a agitação da vida moderna, tão repleta de conflitos, exprimem uma exigência de sentido e um desejo de serenidade e de paz.

Nesta ótica Jesus, no Evangelho de hoje, nos revela exatamente esta dimensão e pode ser um autêntico sinal de esperança também para o nosso tempo. É possível dar volta a tudo o que nos aflige e agride a natureza. Não se trata simplesmente de um “olhar” diferente do jeito comum de considerar as coisas, mas está em jogo uma “visão penetrante” de algo que pode mudar radicalmente a vida e o seu sentido.

Fazendo um recuo no tempo, Mateus busca as manifestações divinas do Antigo Testamento e nos apresenta uma cena repleta de luz: o rosto de Jesus resplandece como o sol, suas vestes são brancas como a luz, a nuvem também é luminosa. Os discípulos, diante de tão intensa luminosidade, caem com o rosto no chão, assustados, e necessitam do “toque e da palavra” de Jesus para se levantarem e superarem o susto. Contudo, após esta experiência que mostrou a identidade de Jesus, os discípulos, “levantando seus olhos não viram ninguém a não ser ele, Jesus só”. Na realidade, é este “Jesus só” que está a caminho de Jerusalém, que eles devem encarar escutar e seguir.

A visão luminosa da Transfiguração é reforçada também pelos personagens que entraram em cena: quando Moisés desceu do monte Sinai “seu rosto resplandecia” (Ex 34,29s); Elias foi arrebatado ao céu num “turbilhão de fogo” (2Rs 2,11; Sir 48,1-11). Mateus mostra que Jesus é o evento central no seu Evangelho, que tudo recria: o homem e a natureza, a partir da luminosidade que vem do Sinai, porque a missão que Jesus assumiu no batismo se concretiza agora ao longo do caminho da cruz, deixando vislumbrar a meta final: a glória do Filho de Deus.

Trata-se de um momento decisivo muito forte: o rosto luminoso de Jesus revela a sua verdadeira identidade aos discípulos para que, depois da Ressurreição, possam entender que o rosto resplandecente do Ressuscitado é o mesmo do Jesus Crucificado. Com efeito, somente à luz da Páscoa eles entendem quem é realmente Jesus e o sentido de sua morte violenta. Assim como o sol é a fonte da luz e “faz ver” as coisas como elas são, a luz da Transfiguração de Jesus “faz ver” a sua identidade messiânica: revela a divindade em sua humanidade. Aqui os discípulos ouvem a voz de Deus chamando Jesus de “Filho”, e, durante a paixão, ouvem Jesus chamando a Deus de “Pai” (26,39). Neste monte, a humanidade de Jesus deixa transparecer a sua divindade e, no Getsêmani, a divindade assume plenamente a sua humanidade.

O grande convite do Pai: “Escutai-o”, assim determina a missão dos discípulos: devem ser testemunhas da Ressurreição de Jesus, enfrentando o mesmo caminho do Filho, que, passando pela cruz, leva à gloria dos filhos de Deus. A partir desse momento, o Evangelho não é só Palavra a ser ouvida, mas também caminho a ser percorrido, pois o “seguimento” de Jesus, assumido de forma autêntica e vivido até as últimas consequências, mostra uma outra visão da realidade. “O que os olhos não viram e os ouvidos não ouviram” (1Cor 2,9), nem Moisés (Ex 33,20), nem Elias (1Rs 19,13) viram, mas aos discípulos é concedido ver “face a face” o rosto de Deus, que resplandece em Jesus de Nazaré.

Pai, que a Transfiguração leve-me a confessar Jesus como teu Filho amado, e a reconhecer que sou chamado a expressar o esplendor divino que trago dentro de mim.

Padre Bantu Mendonça

Fonte: Blog do Padre Bantu

Pai das Misericórdias

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