Jesus volta à Sua terra natal, onde se criou e está acompanhado de Seus discípulos. Aliás, o Senhor sempre se encontra com Seus discípulos. Na verdade, lugar de discípulo é sempre ao lado de seu Mestre.
Somos – pelo menos nos dizemos ser – discípulos de Jesus. Ao lado de quem nos encontramos? Estamos com o Mestre Jesus fazendo Sua vontade e escutando Sua Palavra? Na verdade, precisamos entender que nossa vocação primeira – independentemente do estado de vida que nos encontramos – é estar com o Mestre, como o apóstolo João. Temos um chamado, que é o chamado primeiro: ‘estar com o coração colado no coração do Mestre; o lugar da nossa cabeça, espiritualmente falando, é apoiada no colo de Jesus! Ele volta para casa (Nazaré).
Falar em casa é sempre muito profundo, muito forte, pois toca diretamente na nossa história; história esta que é de salvação. Muitas vezes, nos perguntamos: ‘O que fez Jesus dos doze anos até seus trinta anos quando iniciou a vida pública?’. Simplesmente fez aquilo que de mais importante poderia fazer: viveu, ou seja, intensamente viveu o plano de Deus em Sua vida, preparando-se para a missão. Esta preparação já era o início da missão. Preparou-se em meio aos Seus, em casa, no lar de Nazaré, na simplicidade da vida e na profundidade do relacionamento com o Pai.
As maiores experiências de Deus, os maiores encontros que fazemos com Ele, dão-se nas realidades mais simples da vida. É na simplicidade que Deus sempre nos falou e nos fala. Aliás, é como o amor demonstrado nas pequenas coisas do dia a dia – quem é casado sabe do que falo -, pois grandes coisas qualquer pessoa desesperada faz. Agora, nas pequenas coisas é que o amor é realizado e demonstrado verdadeiramente.
Nesta perspectiva, entendemos o porquê de “tão poucos milagres” acontecerem em nossa vida. O demônio, pelo pecado, infelizmente, trabalhou os nossos olhos espirituais, fazendo com que não venhamos a saborear e a perceber os milagres – que são muitos – acontecendo na nossa vida; principalmente os milagres que Deus realiza por meio daqueles que se encontram tão perto de nós, nossos mais íntimos, nossa família.
Jesus lhes dizia e diz a cada um de nós que “um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. Isso é muito sério! Jesus sempre operará milagres e prodígios na nossa vida utilizando-se de uma mediação humana. Convençamo-nos disso definitivamente! É nas realidades concretas da nossa vida que o milagre acontece. Mas precisamos pedir a cura. Não somente da garganta – hoje celebrando a memória de São Brás –, mas dos nossos olhos, pedindo ao Senhor a graça de enxergarmos tudo e todos a partir da ótica do Coração de Jesus. “Vê bem, quem vê com os olhos do coração; pois o essencial é invisível aos olhos”, já dizia o Pequeno Príncipe. Nossa casa e nossa família precisam ser lugares de milagres. Para isso, no entanto, precisamos sair de nós mesmos, de nossos preconceitos, de nosso individualismo e orgulho para irmos ao encontro do outro.
Muito mais do que realizarmos milagres por meio do Senhor, vivamos a nossa vocação: ser um milagre para os outros, principalmente para aqueles que mais precisam, aqueles que estão muito perto de nós.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova