O Evangelho de hoje nos fala dos relacionamentos entre Deus e os homens, e dos homens entre si.
Começaremos dizendo que Deus cria o homem por pura benevolência e o faz participar da Sua dignidade. A partir daí, o homem se converte em grande devedor de Deus. Primeiro da vida – como dom gratuito de Deus – e por isso seu promotor e protetor, quer no início quer na fase terminal. Ele foi constituído por Deus como senhor e guarda da natureza: “Crescei-vos, multiplicai-vos, dominai e sujeitai a terra” (Gn 1,28a).
Porque criados à imagem e semelhança de Deus – homem e mulher os criou – Deus estabelece relações entre os homens.
A Quaresma é o tempo do sonho de Deus. Como cristãos, embora ainda pequenos, somos convidados, interpelados e impelidos a viver este sonho de Deus em nossa vida. Sonho que se realiza quando amamos, acolhemos e perdoamos os erros e falhas uns dos outros. Portanto, é tempo de viver um constante amar e perdoar sem fim. Aliás, é isso que signficam as palavras de Jesus ante a pergunta de Pedro: “Quantas vezes deverei perdoar se meu irmão me ofender. Até sete vezes?”
Deus quer nos falar, neste dia, sobre um assunto tremendamente importante. Eu diria essencial para que os relacionamentos em família possam gozar de inteira comunhão. Refiro-me ao perdão. O perdão é a maior experiência de amor que podemos fazer e não há dia ou tempo marcado para ele. Por desconhecermos as implicações do ato de perdoar e ser perdoado, é que vemos, a cada dia, lares se desfazendo, filhos abandonando os seus pais, casais se divorciando, irmãos brigando contra irmãos.
Vivemos num mundo, de fato, carente do amor e do perdão. Recordo a você, meu irmão, que a resposta de Senhor: “Não te digo até sete vezes mas até setenta vezes sete”, nos faz mergulhar na imensidade da misericórdia de Deus.
Deus não faz “matemática” para saber até quanto deve perdoar. Veja o que acontece conosco, quando nos ajoelhamos diante d’Ele reconhecendo nossos pecados e pedimos perdão com o propósito de nos corrigirmos, na pessoa do empregado que, de joelhos, diz ao seu patrão: “Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo”. Diante disso, “o patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora”.
Se o simples patrão perdoou a grande dívida, quanto mais Deus que é rico em misericórdia – que perdoa até a milésima geração – não nos perdoará os nossos pecados se a Ele recorrermos, noite e dia, com gemidos inefáveis?
Quem ama não pode olhar “quantas vezes” as pessoas lhe ofenderam, acusaram injustamente, traíram, enganaram e também “quantas vezes” já perdoou aos que lhe fizeram tudo isso. É necessário perdoar sempre.
A falta do perdão entre os homens é tão forte que, a cada segundo que passa, nos deparamos com o que aconteceu na parábola que Jesus contou. Cristãos que pedem que Deus os perdoe, mas eles mesmo não perdoam. Ou, se o fazem, é só da “boca pra fora” e não de coração. Se isso acontece com você, o desfecho será: “Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você”.
Tomemos para nossas vidas a advertência de Jesus: “É assim que meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.
Padre Bantu Mendonça