O Evangelho de Marcos é o mais rico em assinalar pormenores emocionais de Jesus. Hoje, por exemplo, temos dois dos muitos “olhares” de Cristo que o evangelista anota no seu Evangelho. O primeiro é dirigido com carinho a um jovem rico, e o segundo aos discípulos com alento e compreensão. Os dois olhares marcam as duas partes do Evangelho de hoje: encontro de um jovem rico com Jesus e lição do Senhor aos Seus discípulos sobre a riqueza.
Em certa ocasião um homem rico aproximou-se do Messias perguntando-Lhe: “Bom mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” Ele respondeu-lhe enumerando os mandamentos. O rico – um jovem, segundo Mateus – diz tê-los cumprido desde pequeno. Então Jesus olhou-o com carinho e disse-lhe: “uma coisa te falta: vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres – assim terás um tesouro nos céu – e depois segue-me”.
Ultrapassado o nível mínimo da lei, o Senhor entra numa etapa mais exigente: o desprendimento de tudo o que se possui. Só completando este segundo passo, a pobreza voluntária, se acede à categoria de discípulo por meio do seguimento. Cristo faz a proposta seguindo as leis de uma pedagogia personalizada e responsabilizadora, isto é, sem oprimir nem impor, e respeitando a livre decisão do sujeito, que neste caso resultou negativa: “A estas palavras, ele contristou-se e saiu pesaroso, porque era muito rico”.
Perante o fracasso desta vocação, Jesus comenta: Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus. O desenlace da cena oferece-Lhe oportunidade de instruir os Seus discípulos sobre os perigos da riqueza e a necessidade do desprendimento dos bens terrenos para alcançar o Reino.
Porque ter alma de rico, isto é, “pôr a confiança no dinheiro” e no que se possui supõe uma dificuldade tão grande para esse objetivo como a passagem de um camelo pelo buraco de uma agulha. Hipérbole oriental que ilustra bem a ideia. A pergunta para cada um de nós é esta: onde estamos colocando nossa esperança: em Deus, na Sua Palavra, ou no dinheiro, na nossa autossuficiência de viver uma vida sem Deus?
Riqueza evangelicamente falando, neste contexto, é uma vida na qual tudo se encontra em primeiro lugar e Deus em segundo. Por sua vez, pobreza evangélica é termos o Todo-poderoso como nossa única riqueza. Somente os pobres herdarão o Reino dos Céus.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova
*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia. p. 347. Paulus: 2000.