“Naquele tempo, dirigindo-se Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, disse-lhes: “Escutai esta outra parábola: certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros e viajou para o estrangeiro’” (Mateus 21, 33).

Meus irmãos e minhas irmãs, a vida é um dom precioso confiado a cada um de nós. Nós recebemos esta dádiva de Deus, este presente do Senhor. Você, que está ouvindo essa homilia, pode constatar no seu coração, e diga comigo: “A minha vida é um dom de Deus”. Nós somos um dom precioso do Senhor! 

E essa parábola Nosso Senhor dirige aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, porque eram grupos que rejeitavam completamente a Jesus, rejeitavam a vida de Jesus. E é importante destacar aqui: não podemos rejeitar esse dom — que é a nossa vida —, e o dom precioso da vida de Jesus.

A parábola nos mostra as diversas ações de Deus em prol da humanidade: plantou uma vinha — “Antes que tu te formaste no ventre da tua mãe, eu já te conhecia”. Deus deu a cada um de nós o dom da vida. Por isso, a Igreja jamais vai tolerar o aborto, a eutanásia e os abusos.

Recentemente, a CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, inclusive emitiu uma nota contra as atuais medidas que visavam a flexibilização do aborto. A Igreja nunca vai compactuar com isso. Nós, cristãos, jamais vamos aceitar que leis favoreçam a morte. O dom da vida é uma atributo exclusivo do Criador, até aquela vida que é fruto de um estupro, ela também recebe do Criador uma alma, e ela é um dom que precisa ser preservado e guardado. Tudo o que faz mal à vida precisa ser evitado.

Nós somos filhos livres, capazes de boas escolhas e de construir, junto com Deus, uma vida plena e digna

Depois, o Evangelho diz que, além de plantar essa vinha, colocou uma cerca em volta dela. O termo aqui usado em grego é “fragmos”, que quer dizer, “aquilo que separa”, e não é uma tirania de Deus, como se Deus sufocasse a liberdade humana, mas, pelo contrário, é a expressão do cuidado de Deus, da proteção de Deus. Quando nós vemos, por exemplo, os mandamentos de Deus, esses não são para tirar a liberdade do ser humano, não é para sufocar a vivência humana, mas é, justamente, para proteger a vida humana, para levar todos os filhos a uma vida plena e digna. 

Existem coisas na nossa vida que têm limites e que nós não podemos ultrapassar. Quando a humanidade ultrapassou os certos limites, ela se viu fragmentada. Basta pensar nos horrores de uma guerra, nas manipulações genéticas, no uso indevido de embriões, o modismo das cirurgias estéticas etc. Quando a humanidade ultrapassou esses limites, nós colhemos consequências muito duras. Crie seu filho sem limites e você vai ver o resultado. Coitadas das professoras, das catequistas, dos policiais que, muitas vezes, têm que impor limites, têm que fazer valer também a boa conduta e, muitas vezes, são mal interpretados, mal pagos e criticados. 

Essa Palavra de Deus mexe com cada um de nós. Depois, finalmente, ele arrendou a vinha, ou seja, Deus trabalha com a participação, com a corresponsabilidade, com a nossa cooperação. Nós não somos marionetes, nós somos filhos livres, capazes de boas escolhas e de construir, junto com Deus, uma vida plena e digna.

Sobre todos vós, desça a bênção do Deus Todo-poderoso. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!