“Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Ali havia um homem cuja mão direita era seca. Os mestres da Lei e os fariseus o observavam, para ver se Jesus iria curá-lo em dia de sábado e, assim, encontrarem motivo para acusá-lo. Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse ao homem da mão seca: ‘Levanta-te e fica aqui no meio’. Ele se levantou e ficou de pé”. (Lucas 6,6-8)
Meus irmãos e minhas irmãs, às vezes, o nosso fervor religioso, nos momentos de oração e celebrações, torna-nos um pouco cegos para algumas realidades bem gritantes que estão muito perto de nós. Foi o que aconteceu, aqui, no episódio narrado no Evangelho de hoje.
Existia um homem com a mão seca no meio da sinagoga, mas as pessoas só se dão conta quando a “bendita” regra da observância do sábado é quebrada por Jesus. A atenção não se volta para a necessidade daquele homem, a atenção se volta quando a regra é quebrada, aí sim todos se dão conta de que existe um homem, ali, de mão seca, necessitado da graça de Deus.
Mas Jesus é um Mestre de pastoral, Ele coloca aquele homem no centro — no centro não para expor o seu limite, e sim para recuperar a sua dignidade. Quantos irmãos nossos celebram a Eucaristia lá no fundo da igreja, atrás das pilastras ou nem vão às nossas celebrações porque se sentem excluídos, sentem-se menos, desvalorizados, ou estão envergonhados por causa de uma situação. E, muitas vezes, não é por desleixo ou descumprimento do preceito, mas porque não foram acolhidas com respeito e caridade nas suas fragilidades.
Se a nossa vida espiritual não nos faz mais atentos às necessidades dos outros, é um ponto a ser questionado na nossa espiritualidade
Aquele homem estava no canto, estava afastado e Jesus o traz para o centro. Jesus percebeu que havia ali na sinagoga um homem de mão seca, mas vários outros de coração seco. Jesus precisava curar a mão daquele homem, mas também curar a forma doentia com que os outros guardavam o sábado. Tinha uma mão seca, mas tinham muitos corações secos que prestavam o culto só da boca para fora e não eram minimamente atentos às necessidades das pessoas.
E olha que, naquela sinagoga, não é que tinham, ali, dez mil pessoas, a sinagoga era muito pequena, a sinagoga é uma realidade bem restrita, bem comunitária, então, faltava mesmo atenção à necessidade daquele homem.
Muitas vezes, somos assim: perdemo-nos em nossos grupos, na quantidade de pessoas, e o pastoreio fica descuidado. Queremos trazer as pessoas e não tomamos conta delas!
Se a nossa vida espiritual não nos faz mais atentos às necessidades dos outros, é um ponto a ser questionado na nossa espiritualidade. Se nós dizemos que amamos a Deus e prestamos culto a Ele, temos de ser sensíveis às necessidades dos outros.
Santa Dulce dos pobres fez do galinheiro do convento um abrigo para os famintos e moradores de rua. Uma mulher profundamente mística e profundamente sensível ao sofrimento do próximo. A obra de Irmã Dulce cresceu, expandiu-se; hoje, em Salvador, é uma obra belíssima que atende a muitas pessoas, porque ela foi uma mulher muito íntima de Deus, mas também muito atenta às necessidades do outro.
Que a Palavra de Deus converta os nossos corações!
Sobre todos vós desça a bênção do Deus Todo-poderoso. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!