No Evangelho de hoje, Jesus responde à pergunda dos judeus por meio de duas parábolas: do remendo e dos odres. O Mestre quer, com elas, mostrar que o Judaísmo antigo estava gasto. É preciso remendá-lo e não dá, porque a nova forma de religião, o Cristianismo, não poderia se encaixar dentro de estruturas velhas e impossíveis de se reformar. Tudo deve ser novo, como são os odres onde se deve colocar o vinho novo.
Para os presos à tradição, essas palavras de Jesus eram duras e não se referiam unicamente ao jejum, mas a toda estrutura religiosa levantada sobre uma tradição mais humana do que propriamente bíblica, como dirá Jesus.
O Antigo Testamento não pode servir como referência essencial da verdadeira religião por Cristo promulgada. O Senhor nos chama de odres novos que devemos recebê-lo porque Ele é o “vinho novo”. Pois, do contrário, os fariseus estariam no verdadeiro caminho da salvação, o que foi tudo contrário. E o Senhor no-lo demonstra várias vezes, sobretudo, quando diz que o maior nascido de mulher é menor que o menor no Reino dos Céus ao referir-se a João Batista (cf. Mt 11,11).
Ele é o Esposo que está com Seus amigos no meio das bodas e, por isso, estes não podem jejuar. Assim sendo, o amor se transforma em gozo com a presença de Jesus.
O jejum, dos três elementos determinados na Quaresma pela Igreja, é o menos praticado e talvez o menos entendido pelos fiéis. Constitui a penitência com respeito a si mesmo, para que o corpo não seja o último a ditar as ordens e o espírito seja dominado pela carne. É o jejum ascético que pode se transformar em jejum expiatório, como penitência.
Jesus toma o lugar de Iahweh com uma nova característica: Ele é o amigo, o íntimo, no qual o homem encontra um amor especial que recebe e dá como um igual ou semelhante. O Verbo escolhe o homem como Sua morada revestido de humanidade – dirá Paulo – e também os homens como seus íntimos.
O discípulo de Jesus, batizado em nome da Santíssima Trindade, é aquele que está em comunhão – quer eclesial, quer sacramental – e está “obrigado” pelo próprio Senhor a ser o pano, o odre novo.
Aliás, as palavras pano sem estrear e manto velho estão escolhidas propositadamente. Significam a incompatibilidade da mentalidade antiga para receber as verdades e as práticas do Reino. O exclusivismo judeu, a circuncisão, as leis de impureza, o sábado e o Templo não seriam mais os referenciais dos novos tempos. Porque os verdadeiros adoradores hão de adorar a Deus em espírito e vida. Como cristãos somos chamados e “obrigados” a abandonar o orgulho, fonte da hipocrisia e o desprezo aos pobres e excluídos. O espírito do Reino de serviço e humildade não entrava dentro da ambição reinante.
Se a primeira comparação – o pano – era uma lição dada aos conterrâneos, a segunda comparação – os odres – é um aviso aos discípulos: não queiram transvasar o espírito e as verdades do Reino a antigas e caducas instituições. O vinho indica a alegria do banquete que não deve faltar em nossa mesa.
Assim, o espírito de amizade deve substituir o espírito de formalismo e temor do Antigo Testamento. O “vinho novo” é o Sangue de Jesus, que deve ser recebido em “odres novos”, que é o meu e o seu coração. Porque quem come e bebe o Corpo e o Sangue de Cristo indignamente, come e bebe a própria condenação.
Antes de se aproximar do banquete Eucarístico, purifique, lave, confesse os seus pecados, porque “vinho novo deve ser posto em odres novos”.
Padre Bantu Mendonça