01 May 2012

O sentido e a dignidade do trabalho humano

Os conterrâneos de Jesus tinham-No visto partir como filho de carpinteiro, mas, agora, reencontram-No como Mestre, rodeado de discípulos. É uma novidade que interpretam somente como vantagem social. Isso os impede de acolher a Palavra de Deus, a explicação das Escrituras e a Sua revelação como o Ungido de Deus. Vista a posição de Jesus nesse prisma, cria-se neles a impressão de que Jesus partiria acabando por deixá-los outra vez na sua pobreza.

É que, no tempo de Jesus, o Judaísmo tinha suas esperanças na vinda de um Messias que restauraria o antigo império de Davi, glorioso segundo dizia a tradição. Essas esperanças tinham suas raízes na “teologia de poder”, elaborada na corte dos descendentes de Davi, por meio da qual visavam recuperar seu poder e seus privilégios.

Na realidade, a realeza, consolidada por Davi, distorceu o ideal de igualdade e partilha característico da tradição de Moisés. O projeto de Deus não é o de consolidar as estruturas de realeza e poder, mas resgatar e promover a vida entre os pobres e excluídos, criando laços pessoais e sociais de fraternidade e partilha. Esse projeto nasce no meio do povo, nasce em uma insignificante cidade da Galileia, na casa de um simples carpinteiro: José.

Esse projeto nasce com a proclamação de seu filho: Jesus de Nazaré. Este, reconhecidamente, tem sabedoria e força de comunicação, mas Sua origem humilde choca as pessoas submetidas à ideologia de poder do Judaísmo.

Rejeitado por aqueles seduzidos pelo poder, Jesus encontra acolhida entre os pobres e pequeninos que lutam para se verem livres da humilhação, da escravidão, das injustiças sociais, das drogas, da prostituição, da luxúria, da criminalidade, da violência e de todo tipo de pecado. Mas isso não se faz sem trabalho. É preciso passar pela escola da humildade, da simplicidade e da força de vontade. E a melhor escolinha é aquela de José, na humilde Nazaré.

Somos convidados a olhar para José, homem justo, que tirava de seu trabalho, na carpintaria, o sustento honesto de sua vida. Lançando o olhar para os nossos dias, notamos uma grande distância dos homens entre si, por causa do avanço da ciência e da técnica. A tecnologia traz seus benefícios, mas, às vezes, não só substitui o trabalhador como até o escraviza ou – pior ainda – neutraliza-o.

Para o mundo digital, quem não se desenvolve no manejo da ciência e da técnica é excluído. A pessoa passa para um segundo plano, porque as relações que marcam o mundo do mercado de trabalho são as da produção, do aumento do lucro, e não a vida nem a dignidade da pessoa.

Na última parte do texto de hoje, Jesus nos dá um “puxão de orelha”, porque, muitas vezes, fechamos os nossos ouvidos para acolher o conselho, a advertência e o ensino daqueles que são nossos parentes, familiares, vizinhos ou conhecidos. E, por outro lado, Ele nos encoraja a não desistir da nossa missão de anunciar o Reino de Deus, seja a que custo for. Jesus nos ensina que a tarefa é árdua, sobretudo, quando se trata de evangelizar a partir de dentro de casa. Para o Senhor também não foi fácil ser profeta na Sua casa, na Sua família. As pessoas duvidavam d’Ele, não queriam acreditar no Seu poder e, por isso mesmo, Ele não fez muitos milagres ali.

Jesus é Aquele irmão que Deus, nosso Pai, enviou para mostrar o caminho que nos leva ao Céu. Diante disso, precisamos estar atentos para acolher as pessoas que, dentro da nossa casa, nos abrem os olhos e são instrumentos de Deus para a nossa conversão. Ouvidos atentos e coração aberto, porque o Senhor fala por meio de quem nós nunca nem esperávamos que Ele falasse.

Muitas vezes Deus nos manda Seus emissários para nos aconselhar com palavras de sabedoria que Ele próprio sugeriu a nós. Porém, por essa pessoa ser, simplesmente, alguém que é muito conhecido nosso, desprezamos as recomendações de Deus. Nesse caso, os milagres também não acontecem na nossa vida, e muitos problemas nunca serão solucionados por causa da nossa impertinência.

Abertos ao convite da conversão, do arrependimento e da acolhida ao Reino dos Céus, sejamos corajosos no anúncio do Evangelho a começar pelos nossos. Nessa data em que comemoramos o Dia Mundial do Trabalho, com júbilo e fé, peçamos a Deus o dom da compreensão do Seu projeto e aprendamos, com São José Operário, o sentido do trabalho para as nossas vidas e famílias e as virtudes da justiça, da honestidade, da simplicidade e da humildade.

São José Operário, rogai por nós!

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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