02 Dec 2012

Advento, tempo oportuno para examinarmos nossa vida

Neste 1º Domingo do Advento, Lucas nos mergulha num dos discursos escatalógicos do Evangelho. Sendo assim, usa imagens e símbolos que não são da nossa cultura e época, e por isso nem sempre são fáceis de serem compreendidos, mesmo que fossem claros para os leitores daquela época. Mas na literatura apocalíptica não é necessário interpretar cada imagem detalhadamente – o mais importante não é cada pedra do mosaico, mas o padrão inteiro – não cada imagem e símbolo, mas a sua mensagem.

O texto nos apresenta a figura do “Filho do Homem” – o título que, nos Evangelhos, Jesus mais usava para si mesmo, e que nós quase nunca usamos. Este título vem de um trecho do livro apocalíptico de Daniel: “Em imagens noturnas, tive esta visão: entre as nuvens do céu vinha alguém como um filho de homem… Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu reino é tal que jamais será destruído” (Dn 7,13s).

Então, Jesus recorda aos seus discípulos a mensagem de ânimo que o Livro de Daniel trazia aos perseguidos do tempo dos Macabeus, pelo ano 175 a.C. – que embora possa parecer que os poderes deste mundo, os impérios opressores, sejam mais fortes do que o poder de Deus, isso não passa de uma ilusão. Pois, na plenitude dos tempos, Deus, através do seu messias – o Filho do Homem – revelará o seu poder, e estabelecerá um Reino que jamais será destruído. E isso acontece agora em Jesus!

Qualquer interpretação de um texto apocalíptico que causa medo nos ouvintes, é necessariamente errada, pois a função da apocalíptica é de animar e dar coragem aos oprimidos e sofredores. Por isso, o ponto central do nosso texto de hoje é uma mensagem de ânimo, coragem e fé: “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima”.

Este trecho tem uma dimensão fortemente cristológica – nos afirma que Jesus, o Filho do Homem vitorioso, está no controle de todas as forças, sejam elas do céu ou do mar – símbolo de forças indomináveis para os judeus. E o versículo acima citado traz uma mensagem cheia de confiança: em contraste com a atitude de covardia dos malvados, os discípulos ficarão com a cabeça erguida, para acolher o juiz justo, o Filho do Homem.

Mesmo assim, os eleitos devem ficar atentos para não caírem. Devem cuidar muito para que: “Os corações… não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. Pois é fácil assumir as atitudes do mundo, sem que notemos, a não ser que sejamos vigilantes. Por isso, o texto de hoje termina com um conselho válido também para os discípulos dos tempos modernos: “Fiquem atentos e rezem todo o tempo, a fim de terem força”.

Quase dois mil anos atrás, o precursor do Império de hoje, o Romano, tentou, aliado com seus auxiliares locais, acabar com um projeto de vida, matando o seu arauto, Jesus de Nazaré. A força parecia ter a última palavra. Mas a verdade era outra – a força do Império era ilusão, pois Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos, mostrando que o mal nunca é mais forte do que o bem, a morte do que a vida, a opressão do que a libertação.

Os dias do Império estão contados, não somente o império político e econômico, mas o dos barões do narcotráfico, da máfia e outros (todo Império tem pés de barro, como ensina o Livro de Daniel e toda a literatura apocalíptica). O projeto de Deus, concretizado em Jesus e continuado hoje por nós, vencerá todo e qualquer projeto do mal.

Advento é tempo oportuno para que examinemos a nossa vida para descobrir se realmente estamos atentos o tempo todo, para não perdermos as manifestações da presença de Jesus no meio de nós. É tempo de nos dedicarmos mais à oração, para renovarmos as nossas forças, para não cairmos na armadilha da desatenção no meio das preocupações e barulho do mundo moderno, para que os nossos corações continuem “sensíveis” aos apelos do Senhor, através dos irmãos, no nosso dia a dia.

A vinda do Senhor, a sua última vinda, ou melhor, o último momento da vinda que Ele inaugurou quando se fez homem e veio habitar no meio de nós, é, de novo, proclamada nesta leitura. E com que solenidade! E com que exigência! Mas, no fundo, será esse o momento supremo da nossa libertação, porque o Senhor, que vem, vem como Salvador. O Advento é o tempo particularmente consagrado a viver nesta expectativa.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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