João Batista é o profeta do Advento e, à semelhança de Isaías, faz ressoar o anúncio de um tempo decisivo que se aproxima. A presença dele é destacada com características semelhantes ao profeta Elias, razão pela qual foi interrogado se era Elias. Depois de um longo silêncio profético em Israel, desponta o Batista anunciando por primeiro a irrupção do Reino de Deus e preparando uma nova aliança: “Eu sou aquele que grita assim no deserto: preparem o caminho para o Senhor passar”. Nesta sequência, João apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. Acreditava-se que o Messias só se manifestaria quando Israel fosse, de fato, a comunidade santa de Deus.
Para tornar-se o povo santo, Israel deveria percorrer o caminho da conversão. João faz ecoar o apelo à conversão, à mudança radical de vida, comportamento e mentalidade. Quem se dispunha a acolher o Messias era convidado para iniciar-se na comunidade messiânica, na vida nova, própria dos que aguardavam a chegada do Messias.
A pregação de João Batista, como um último apelo de Deus ao Seu povo, encontrou ampla adesão: “Iam ter com ele toda Judeia, toda Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados”. A preparação para a vinda do Messias passa pela mudança radical que se concretiza numa nova atitude de vida e na opção de uma nova escala de valores.
Esse grande santo ressalta a força do Messias e define Sua missão como batizar no Espírito: “Depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, diante do qual não sou digno de me prostrar”. O Messias terá a força de Deus e Sua missão será comunicar o Espírito do próprio Deus, que transforma, renova e recria os corações. O batismo com o Espírito (cf. Mc 1,8) revela que o Messias concederá a capacidade de discernimento no que diz respeito às exigências dos caminhos que conduzem a Deus.
Alegremente hoje contemplamos a figura de João Batista. É o domingo da alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor. O Senhor está perto!” Este homem, como dissemos, dá o maior testemunho sobre Jesus diante dos emissários das autoridades judaicas.
Os israelitas viviam dias difíceis sob o jugo dos romanos, explorados pela classe de dirigentes e escravizados pelo sistema religioso, que era ritual e legalista. Para a felicidade dos israelitas e a inquietude das autoridades, do deserto “apareceu um homem enviado por Deus, que se chamava João”. Na pessoa de João, Deus intervém em favor do povo.
O ambiente messiânico vivido pelo povo inquietava a hierarquia religiosa. Uma comissão de sacerdotes e levitas desloca-se de Jerusalém para investigar a ortodoxia de João Batista. Interrogado, o homem enviado por Deus descarta a hipótese de ser o Messias: “Eu não sou o Messias”. Também nega ser Elias ou um profeta. O Batista não se deixa seduzir pelas falsas opiniões que circulavam sobre ele e que deixavam preocupadas as autoridades. Na realidade, ele rejeita tudo o que o coloque no centro das atenções. Sua missão é ser testemunha da luz, para a qual deviam se voltar os olhares.
Não satisfeitos, diante das negativas de João, os representantes das autoridades religiosas perguntam: “Quem você é?” Ao que o precursor responde: “Sou uma voz gritando no deserto”. Novamente, ele se esquiva de ocupar o centro das atenções. “Sou uma voz”. Uma voz que pede aos ouvintes que acolham esta mensagem: “Aplainem os caminhos do Senhor”.
Desconcertados e inquietos, os membros da comissão tornaram a perguntar: “Por que você batiza?” João evitou responder à objeção dos enviados dos fariseus. Mais que isso, minimizou seu rito batismal e ressaltou que ele não se considerava digno nem mesmo de desatar as correias das sandálias d’Aquele que estava por vir. Apesar de desconhecido, este será a luz que iluminará e libertará o povo da cegueira, da escravidão, da mentira e instaurará um novo tempo.
João tinha consciência de que o batismo com água era apenas sinal de conversão e acolhida diante d’Aquele que já estava no meio do povo. Infelizmente, a Boa Nova trazida por Cristo e os novos céus e a nova terra podem passar despercebidos aos olhos dos acomodados e instalados numa vida de privilégios à custa do sofrimento do povo. Mas ontem como hoje, a missão de João Batista é minha e sua. Somos nós que devemos abrir as portas de par em par ao Redentor, Luz das nações e glória de Israel, Seu povo, para que todos possam ver a manifestação da glória de Deus.
Padre Bantu Mendonça