“Num sábado, Jesus estava passando através de plantações de trigo. Seus discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos” (Lucas 6,1).
Primeiro, é preciso entender que o sábado na mentalidade judaica, na cultura, na tradição judaica, ocupa um lugar central, porque observar a lei acima de tudo é guardar o sábado. A lei para quem vive a radicalidade da compreensão da letra está acima de todas as coisas: não se pode abrir mão do sábado, não se pode trabalhar aos sábados, não se pode, de forma alguma, realizar nada.
Eles entenderam a lei escrita, mas não entenderam o espírito dela. Eles entenderam que era para guardar o sábado, mas não entenderam por que o guardar. Guardar em honra, em respeito, em amor ao Senhor nosso Deus, mas a palavra fundamental é compreender o amor.
O amor a esse Deus não pode nos levar a sermos pessoas cegas, bitoladas, rigoristas, que estão preocupadas com a letra, mas não estão preocupadas com a essência da letra.
Aquilo que fazemos para Deus, em honra e amor a Ele, é para entrarmos na essência d’Ele. Então, eu cumpro os meus preceitos religiosos, vou à Missa, faço as minhas orações, mas não entro na essência de Deus, a qual nos revela justamente Jesus.
A essência de Deus é aquilo que Ele é: amor e misericórdia. Deus não é a lei pela lei, Ele não é o rigorismo pelo rigorismo. Deus não nos forma para sermos cegos, mas para abrirmos os nossos olhos.
O amor a esse Deus não pode nos levar a sermos pessoas cegas, bitoladas e rigoristas
Do que adianta guardarmos o sábado ou observarmos a lei se não enxergamos o pobre, o sofrido… Se não enxergamos quem está na nossa casa, se não enxergamos a dor do outro? “Eu sei que é sábado, mas os discípulos estão com fome, não comeram e estão arrasados. Debulhem as espigas e comam”. E Deus estava ali sendo agraciado, louvado e exaltado porque cuidou da fome e da necessidade do outro.
Jesus mesmo dá o exemplo de Davi: os pães estavam reservados aos sacerdotes, mas Davi, na sua fome, comeu aquilo que estava reservado somente a eles. A lei que não nos ensina a cuidar do outro, a nos voltarmos para o outro, a atender a necessidade do outro, essa lei não é divina ou não tem o espírito da graça.
Não é o problema da lei, mas o problema de quem a interpreta, é de quem olha a letra pela letra, é de quem olha as Escrituras pelas letras, mas não pelo Espírito. Por isso, que Deus nos conceda hoje o Espírito da graça, do amor e da misericórdia para entendermos que a pessoa humana, que o ser humano na fome, na sede, na carência e em tudo que vive é mais importante.
Quem ama a Deus cuida do seu próximo!
Deus abençoe você!