Estamos no Tempo da Páscoa, da Ressurreição. Celebramos, nestes dias, o poder sem limites de Deus. Tudo é possível para Ele. No Espírito, Deus Pai tem a energia capaz de transformar tudo. Jesus ressuscitou como primícias, mas, depois dele, ressuscitará também seu corpo, a Igreja. A Igreja poderá ser aquela nova Jerusalém, casa do Amor e da Missão com que Jesus sonhou quando estava fisicamente entre nós.
A comunidade cristã é missionária porque Deus continua fazendo sua obra. Ele, por intermédio do Espírito, continua a missão de Jesus. A Igreja missionária não é dona de sua missão; procura ser transparência, expressão, colaboradora da missão de Jesus.
A velha Jerusalém nós já conhecemos. Está amarrada a um passado violento, a seus ritos e sistema religioso caducos, a suas autoridades malévolas. Não conhecemos a nova Jerusalém. Não está aqui. Vem do céu como uma noiva adornada para seu esposo. É cidade de sonho, fundada pelo Deus que quer nos surpreender com a novidade: “Eis que eu faço novas todas as coisas!”
Poderíamos nos contentar em dizer que a vinda da nova Jerusalém será “no final dos tempos”. Já estamos no final dos tempos, desde que Jesus ressuscitou! A nova Jerusalém desce todos os dias a nossa terra. É um dom que diariamente nos é oferecido. Isso acontece, entretanto, de forma misteriosa, sacramental. A nova Jerusalém se oferece e se manifesta às “testemunhas escolhidas por Deus”. É o corpo ressuscitado e novo de Cristo.
Os que são agraciados com a contemplação da descida da nova Jerusalém, com o aparecimento do corpo eclesial de Jesus ressuscitado têm outra consciência, vivem as realidades eclesiais “de outra maneira”. Não ajustam sua vida ao estilo da velha Jerusalém. Deixam com facilidade que o velho passe, para que se instaure a novidade que vem de Deus. Não se agarram a velhos estilos de poder, a contradições mortas. Não querem ressuscitar o velho culto, não adoram o dinheiro, não procuram esplendores caducos.
Jesus nos diz, de maneira muito forte, que o sinal característico de seus discípulos é o amor fraterno. A condição essencial é que “nos amemos uns aos outros”. É a marca da autenticidade. Sem essa marca, somos produto adulterado. Empenhar-nos em que reine entre nós o amor fraterno não é tarefa fácil.
Existe Páscoa e existe Ressurreição. Existem possibilidades para que se torne realidade o sonho de Jesus, o sonho de Igreja. Preparando a acolhida da nova Jerusalém, podemos já viver antecipadamente sua presença. Abertos às pequenas tarefas que a mãe Igreja nos confia, podemos descobrir a maravilha do projeto misterioso. É nos dado participar do amor do Reino que tudo une e harmoniza: o amor aos irmãos. Por isso, quem ama seus irmãos tem a Vida.
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo emérito de Juiz de Fora (MG)