21 Aug 2011

Um toque de gozo e esperança

E disse Maria: “Enaltece minha alma ao Senhor. E meu espírito encheu-se de gozo no Deus, meu Salvador”. O Magnificat constitui um louvor em alta voz. Louvor de agradecimento a Deus, que é Senhor e Salvador. Um grito de ação de graças por um benefício recebido. Neste hino de louvor, a Virgem Maria vê antecipadamente a ação salvífica divina. A razão é: “Porque fixou seu olhar na insignificância de sua escrava. Eis pois que a partir de agora chamar-me-ão ditosa, todas as gerações”. Fixou seu olhar significa observar, prestar atenção.

A primeira razão da ação de graças é, pois, a natureza transcendental ou divina de quem provém a eleição traduzida em benevolência: Deus. A segunda, é a pequenez pela qual Ele se deixou conquistar, pois escolheu um ser insignificante como é uma escrava. É por isso que todas as gerações a chamarão bendita, ou seja, privilegiada de Deus.

“Porque fez para mim grandes coisas o Poderoso já que é sagrado seu nome”. O Poderoso era um dos títulos com os quais os judeus substituíam o nome “santo”. É com esse nome, – o Poderoso – que Jesus responde à conjura de Caifás (cf. Mt 26,64). Só que nesta última circunstância, usa-se o substantivo “poder”. Sem especificar quais eram essas coisas, Nossa Senhora termina com louvor dedicado a esse nome que era sagrado: já que Seu nome é sagrado. Isso pode significar que não pode ser pronunciado e que poderíamos traduzir por seu nome é único como divino. Sem dúvida que a base das grandes coisas feitas pelo poder divino era a maternidade especial de Maria, da qual Isabel era testemunha por intermédio do dom de profecia, por obra do Espírito Santo de Deus.

“Pois a misericórdia d’Ele se estende, de geração em geração, para os que O temem”. Vemos aqui a Misericórdia Divina, que é infinita, perdura de geração em geração. O amor com que se ama a um desvalido ou necessitado para ajudá-lo transpassa os limites de uma geração.

A Santíssima Virgem Maria oferece uma definição da atuação divina que vale a pena considerar: Deus é misericórdia para os que O respeitam. Respeito e reverência que se traduz em obediência às leis de modo escrupuloso. A misericórdia é um ato de amor correspondente a quem se inclina ao mais fracos para ajudá-los e consolá-los. Esta é a linha geral que Maria descobriu em Deus, pela escolha particular de sua pessoa.

“Fez força no seu braço: desbaratou os arrogantes de pensamento no íntimo de seus corações”. Para melhor entender o versículo poderíamos traduzir: Seu braço mostrou-se poderoso ao desbaratar os arrogantes de pensamento no íntimo de seus corações. O arco dos poderosos é quebrado; os debilitados são cingidos de força (cf. 1 Sm 2,4), pois aos poderosos Ele rebaixou dos tronos e exaltou os de humilde condição. Aos famintos cumulou de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.

Neste ponto a Virgem Maria segue o Salmo 107,9 e o cântico de Ana: Os que viviam na fartura se empregam por comida. Os que tinham fome não precisam trabalhar (cf. 1 Sm 2,4-5). Nossa Senhora acompanha a política de Jesus nas bem-aventuranças, de modo especial vemos isso na redação de Lucas: Benditos os famintos… Ai de vós os saciados agora (Lc 6).

“Deus olhou e abraçou Israel, seu filho, para se recordar da misericórdia como falou aos nossos pais, Abraão e à sua prole pelos séculos” (Gn 17,7).

Maria permaneceu com Isabel por três meses e voltou a sua casa [a Nazaré]. Sem dúvida que era o tempo que faltava para que Isabel desse à luz seu filho e Maria, consequentemente, ficou com sua prima até o momento do nascimento de João. Assim, se explicam os detalhes do mesmo: de que Lucas é narrador e Maria, sem dúvida, a testemunha.

Os Evangelhos deveriam ser relatos de salvação, referidos a fatos e ditos de Jesus. Mas esse relato de hoje tem como protagonista Maria. Ela é a figura central, já que o Filho ainda era um feto que ela carregava no seio e dependia totalmente dela. Isso nos indica que Nossa Senhora está unida intrinsicamente ao Filho na história da nossa salvação. A devoção especial que a Igreja dedica a Santíssima Virgem Maria tem como base esse relato de Lucas. Ela tem parte em nossa salvação como Mãe do Senhor.

Maria Santíssima é mais do que a arca do Senhor, a qual Davi humildemente recebeu maravilhado (cf. II Sm 6,9). Ela é a Mãe do Senhor. Recebê-la como visita é um favor que nos iguala a Isabel. E escutar o Magnificat é entrar dentro dos planos da Providência Divina para encontrarmos um alívio em nossa pequenez e insignificância. Não em nossos méritos, mas nessas circunstâncias – aparentemente desfavoráveis – encontraremos a bondade divina expressa em misericórdia.

No nosso mundo, em que a maternidade parece estar fora de moda, o encontro entre as duas futuras mães é um toque de gozo e esperança, como a renovação da vida que sempre é acompanhada de penalidades, mas que, indubitavelmente, termina em feliz regeneração.

Isabel, como profeta de Deus, dá a Maria o título máximo que a representa ao povo de Deus: “Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” Mãe do Senhor, que o Concílio de Éfeso expressou em termos mais filosóficos como Theótokos, que o povo aclama como Mãe de Deus. Venerá-la e recorrer à sua intercessão é seguir as linhas mestras propostas por Lucas em seu Evangelho.

Isabel a proclama como modelo entre as mulheres. Não é querendo tronos que estaremos na mira da misericórdia divina, mas sentindo nossa insignificância que veremos Sua bondade refletida como favor e benevolência em nossas vidas.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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