22 Feb 2013

Somos indispensáveis e insubstituíveis em quê?

Quem verdadeiramente sou para Deus em Seu plano de salvação e bênçãos? Quem nunca se perguntou sobre isso, hoje é um bom dia para tal reflexão!

O Evangelho de Mt 16, 13-19, para além de ser o coração do Evangelho sinóptico mais completo e catequético, não deixa de apontar pistas para responder as questões apresentadas no princípio dessa nossa partilha da Palavra. Claro que este trecho registra a revelação quanto às palavras fundantes do Novo Israel e quanto ao Primado de Pedro frente aos demais apóstolos, mas também fornecem elementos existenciais que apontam para o lugar, ou melhor, para a Pessoa certa, portadora de um mistério que transpassa o nosso: «O Cristo, o Filho do Deus vivo» (Mt 16, 16).

O Concílio Vaticano II não teve documento a tratar unicamente do homem, no entanto, considerou-o em todo o seu corpo textual, por isso forneceu-nos também esta pérola polida e bem apresentada por sábias expressões: «Na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado esclarece-se, verdadeiramente, o mistério do homem. Adão, o primeiro homem, era efetivamente figura daquele futuro, isto é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do Seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre nele a sua vocação sublime» (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 22).

Não foi esta a descoberta da pessoa de Simão? De quem ele poderia, já adulto, receber um novo nome e missão? E qual dessas duas realidades permaneceria com Pedro no céu? O ser ou o agir? De fato, as palavras de Cristo iluminaram a sua existência e o seu agir como discípulo e missionário da Boa Nova. Só Jesus, o Novo Adão, poderia dizer assim ao coração de Simão: «…tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la» (Mt 16, 18).

A descoberta que fazemos da nossa pessoa em Cristo será sempre surpreendente, comprometedora e de uma responsabilidade que ultrapassa as nossas forças naturais, ainda que as suponham. Pensemos novamente em Pedro: quando que seu ‘sim’ ao seguimento fiel a Cristo poderia supor que ele seria escolhido para ser o primeiro Papa da Igreja de Cristo? Nenhum Evangelista e nenhuma comunidade criaria essas palavras e as depositaria sobre “as costas de alguém”: «Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu» (v. 19).

E não pensemos que tenha sido uma recompensa às palavras acertadas de Simão, às quais o próprio Cristo deu a entender que não poderia ser resultado dos estudos nem de capacidades meramente humanas: « …porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu» (v. 17).

Também é preciso considerar, pela Tradição Viva, pela história da Igreja Católica e pelos fatos mais próximos do nosso tempo, que este lugar de Pedro não seria insubstituível para o governo da Igreja. O Primado daquele que não é o primeiro entre os iguais, mas sim Chefe do Rebanho universal, pai (Papa) para todos e mestre universal, necessitaria de sucessão, passível até de uma declaração de renúncia. Isto foi e será possível como um ato livre, consciente e público por parte de quem ocupe o serviço de Vigário de Cristo, principalmente quando movido pela razoabilidade, humildade, coragem correspondente à vontade de Deus e o bem da Igreja, como fez o Papa Bento XVI.

Quanto a nós, ficamos interpelados pelo Evangelho de Mt 16 e iluminados pelos últimos acontecimentos da Igreja de Cristo, os quais nos apontam para o essencial, fundador e fundamento eterno da Igreja de Cristo e sustentáculo do serviço eclesial. Neste tempo de Quaresma, somos chamados mais do que servir ao Senhor e aos irmãos em Nome do Senhor – até quando Ele quiser! -, mas a redescobrirmos o nosso valor enquanto pessoa, no encontro pessoal com Aquele único que é a Cabeça da Igreja e o Pastor Eterno, insubstituível no ser e no agir. Só Jesus, com o Pai e o Espírito Santo!

Ele, antes de tudo, nos quer agindo a partir do essencial: nossa pertença a Ele! Nisto somos todos indispensáveis e insubstituíveis: «Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer» (Jo 15,5).

Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova

Pai das Misericórdias

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