02 Apr 2010

Paixão e Cruz de Cristo*

A sexta-feira santa é um dia fundado liturgicamente em torno da paixão do Senhor e da sua morte na cruz. Hoje cumpre-se o repetido anúncio de Jesus nos evangelhos sobre a sua morte violenta em Jerusalém. A pergunta é óbvia: por que tinha que ser assim? A resposta mais profunda e válida somente Deus pode dá-la, pois pisamos o terreno insondável da vontade divina e do seu projeto eterno de redenção realizado em Cristo.

Nem Deus Pai nem mesmo Jesus quiseram o sofrimento, a paixão dolorosa e a morte violenta por si mesmas, pois são realidades negativas por si só. A valia da dor, paixão e morte de Cristo radica no significado que recebem de uma finalidade superior: a salvação do homem, a quem Deus ama. Verdade central da nossa fé: tanto amou Deus o mundo que entregou o seu próprio Filho.

Jesus, não obstante, aceita o plano do Pai: não se faça a minha vontade, mas a tua. Este é o motivo e a razão da obediência de Cristo: o querer do Pai, que é a salvação do homem pelo amor que lhe tem. Jesus carrega com a cruz da sua paixão por fidelidade ao Pai e por amor ao homem, isto é, por solidariedade com os seus irmãos. O motivo parece duplo, mas no fundo é único, porque a vontade do Pai é o amor e a salvação do homem.

“Por nós e por nossa salvação”, como dizemos no credo, é a razão teológica que a nossa fé nos descobre para explicar e entender toda a vida de Jesus desde a encarnação à sua paixão, morte e ressurreição. A segunda leitura de hoje afirma: “Cristo, apesar de ser filho, aprendeu, sofrendo, a obedecer. E levado à perfeição, converteu-se para todos os que lhe obedecem em princípio de salvação eterna”.

O mistério da cruz na vida de Jesus – e, portanto, também na nossa – é revelação máxima de amor, pois não há modo mais verídico de expressar o amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama. Pois bem, o poema sublime do amor que é a vida, paixão e morte de Cristo pede de nós uma resposta também de amor. “Nós amamos a Deus porque ele nos amor primeiro. Mas se alguém diz: eu amo a Deus, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso, pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

Acreditamos e dizemos que a cruz é o sinal do cristão não por masoquismo espiritual, mas porque a cruz é fonte de vida e de libertação total, como sinal que é do amor de Deus ao homem por meio de Jesus Cristo. O amor que testemunha a sua cruz é a única força capaz de mudar o mundo, se nós que nos dizemos seus discípulos seguirmos seu exemplo.

Jesus poderia ter-nos salvo com triunfo, poder e glória; isto é, a partir de fora, como um super-homem. Mas preferiu fazer a partir de dentro da nossa condição humana; ser mais um, demonstrando-o à base de humildade, serviço, obediência e renúncia, em vez de se impor pela categoria e pelo poder. Este segundo é o nosso estilo. Mas Cristo não veio para que o servissem, mas para servir; por isso, renunciando à alegria imediata, suportou a cruz e a ignomínia.

O Senhor convida-nos a segui-lo na autonegação que nos liberta, abraçando a cruz de cada dia, sempre presente de uma outra forma, e da qual inutilmente tentaremos escapar. Saber sofrer por amor é grande sabedoria. O que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á, disse Cristo. O segredo da cruz de Jesus é o amor, e a única maneira de a entender e convertê-la em fonte de vida é amar generosamente Deus e os irmãos.

Padre Pacheco,

Comunidade Canção Nova.

*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia. p. 171-172. Paulus: 2000.

Pai das Misericórdias

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