“Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então, sim, eles vão jejuar”! Com estas palavras Jesus não aboliu nem o jejum nem a oração.
Simplesmente Ele quis dizer aos discípulos de João Batista e a todos aqueles que ainda estavam presos ao passado que jejum é feito em casos específicos, quando queremos servir melhor a Deus, quando estamos passando por tribulações, perseguições, doenças e calamidades, nos arrependimentos de pecados nossos e do povo e nas conversões em massa.
Aliás, jejum, oração e boas obras são mencionados frequentemente tanto pelos judeus como pelos cristãos. Oração não fica à frente do jejum e das boas obras, independente deles, mas como algo que os liga interiormente. O mais completo entendimento da oração é particularmente oferecido em conexão com o jejum. Quando nós olhamos o que é dito sobre a oração, e como ela é definida, nós podemos ver que a ênfase é naturalmente mais no estado do coração e alma que no corpo, como possível expressão da oração em geral.
Segundo São João Damasceno: “Oração é a subida da mente e do coração de alguém a Deus ou o pedido das boas coisas de Deus”.
Primariamente, nela a conversa com Deus como atividade espiritual é enfatizada. Todavia, há também a prática e a experiência de que não apenas pensamentos, conversas e atos espirituais por si só estão inclusos na oração, mas também o corpo. A oração torna-se mais completa por meio do corpo e do movimento, que acompanham as palavras ditas nesse momento [de oração]. O corpo e seu movimento tornam a oração mais completa e expressiva para que ela possa mais facilmente envolver a pessoa inteira.
A unificação do corpo e da alma na oração é particularmente manifestada no jejuar e na oração. O jejum físico torna a oração mais completa. Uma pessoa que jejua reza melhor e uma pessoa que reza, jejua mais facilmente. Desta forma, a oração não permanece somente como uma expressão ou palavras, mas cobre o ser humano inteiro. O jejum físico é uma admissão para Deus diante dos homens que alguém não pode fazer sozinho e necessita de ajuda. Uma pessoa experimenta sua impotência mais facilmente quando ela jejua, e por isso, por meio do jejum físico, a alma está mais aberta a Deus. Sem jejum, nossas palavras na oração permanecem sem uma fundação verdadeira. No Antigo Testamento, os crentes jejuavam e rezavam individualmente, em grupos e em várias situações da vida. Por causa disso, eles sempre experimentavam a ajuda de Deus Pai. Jesus confere uma força especial ao jejum e à oração, especialmente na batalha contra os espíritos do mal.
O jejum é um tipo de penitência no qual abrimos mão de algo que nos agrada e oferecemos esse “sacrifício” por alguma boa intenção. E aqui entra um detalhe: só Deus precisa saber que estamos jejuando! Você não precisa sair por aí se gabando de jejuar ou se mostrando abatido por praticá-lo. Pelo contrário, o verdadeiro jejum é feito de modo escondido, para que somente o nosso Deus, que vê o que está escondido, tome conhecimento.
No Evangelho de hoje, Jesus justificou que os Seus discípulos não estavam em jejum porque Ele próprio estava presente, e isso era motivo de festa! E festa não combina com jejum! Chegaria o dia em que Ele não estaria mais com eles. E aí sim, eles jejuariam. Querendo, pois, fazer uma caminhada de penitência, vamos praticá-lo [jejum]. Hoje é o dia, esta é a hora da prática do jejum. Abrindo mão de certos prazeres, ou até oferecendo as nossas dores e sofrimentos a Deus, a fim de que Ele amenize o sofrimento nosso ou de outras pessoas.
Pai, desejo preparar-me bem para celebrar a Páscoa, tempo de reencontro com o Ressuscitado. Que o jejum me predisponha, do melhor modo possível, para este momento.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Blog do Padre Bantu