19 Dec 2011

O Senhor nos escolheu para sermos testemunhas d'Ele

Esta estranha entrada em cena de um ser que se tornará um dos mais importantes da realização dos planos divinos é muito do estilo do Antigo Testamento. Todos os seres vivos deviam ser destruídos pelo dilúvio, mas Noé e os seus foram salvos na arca. Isaac nasce de Sara, já em idade avançada para dar à luz. Davi, jovem e sem técnica de combate, derruba Golias. Moisés, futuro guia do povo de Israel, é encontrado em uma cesta e salvo da morte. Desta maneira, Deus quer destacar que Ele mesmo toma a iniciativa da salvação de Seu povo. O anúncio do nascimento de João é solene. Realiza-se no marco litúrgico do Templo.

Desde a designação do nome do menino: “João” – que significa “Deus é favorável” – tudo é concreta preparação divina do instrumento que o Senhor elegeu. Sua chegada não passará despercebida e muitos se alegrarão com seu nascimento (cf. Lc 1,14); abster-se-á de vinho e bebidas embriagantes, será um menino consagrado e, como prescreve o livro dos Números (6,1), ele não beberá vinho nem licor fermentado. João já traz um sinal de sua vocação de asceta. O Espírito habita nele desde o seio de sua mãe. A sua vocação de asceta une-se à guia de seu povo (cf. Lc 1,17). Precederá o Messias, papel que Malaquias (3,23) atribuída a Elias. Sua circuncisão, fato característico, mostra também a eleição divina: ninguém em sua parentela tem o nome de João (cf. Lc 1,61), mas o Senhor quer que ele seja chamado assim mudando os costumes. O Senhor foi quem o escolheu. É Ele quem dirige tudo e guia o Seu povo.

O nascimento de João é motivo de um admirável poema que, por sua vez, é ação de graças e descrição do futuro papel do menino. A Igreja canta este poema todos os dias – no final das Laudes – reavivando sua ação de graças pela salvação que Deus lhe deu e em reconhecimento porque ele [João] continua mostrando-lhe “o caminho da paz”.

João Batista é sinal da irrupção de Deus em Seu povo. O Senhor o visita, o livra, realiza a aliança que havia prometido. O papel do precursor é muito precioso: prepara os caminhos do Senhor (cf. Is 40,3), dá a Seu povo o conhecimento da salvação. Todo o afã especulativo e contemplativo de Israel é conhecer a salvação, as maravilhas do desígnio de Deus sobre Seu povo. O conhecimento dessa salvação provoca nele a ação de graças, a bênção, a proclamação dos benefícios de Deus que se expressa no “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel”.

Esta é a forma tradicional de oração de ação de graças que admira os desígnios de Deus. Com estes mesmos termos, o servidor de Abraão bendiz a Deus (cf. Gn 24,26). Assim também se expressa Jetro, sogro de Moisés, reagindo ao admirável relato do que Deus havia feito para livrar Israel dos egípcios (cf. Ex 18,10). A salvação é a remissão dos pecados, obra da misericordiosa ternura de nosso Deus (cf. Lc 1,77-78).

João deverá, pois, anunciar um batismo no Espírito para remissão dos pecados. Mas este batismo não terá apenas esse efeito. Será iluminação. A misericordiosa ternura de Deus enviará o Messias que, segundo duas passagens de Isaías (9,1 e 42,7), retomadas por Cristo (cf. Jo 8,12), “iluminará os que jazem entre as trevas e sombra da morte” (Lc 1,79).

O papel de João é o de “preparar o caminho do Senhor”. Ele sabe disso e designa a si mesmo, referindo-se a Isaías (40,3), como a voz que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor”. Mais positivamente ainda, deverá mostrar “Aquele que está no meio dos homens, mas que estes não O conhecem” (cf. Jo 1,26) e a quem chama, quando o vê chegar: “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).

João corresponde ao que foi dito e previsto sobre ele. Deve dar testemunho da presença do Messias. O modo de chamá-lo indica o que o Messias representa para ele: Ele é o “Cordeiro de Deus”.

Como João, a Igreja e seus fiéis têm o dever de “não cobrir a luz”, mas de dar testemunho dela (cf. Jo 1,7). A esposa, a Igreja, deve ceder o posto ao Esposo. Ela é testemunho e deve ocultar-se diante d’Aquele a quem testemunha. Papel difícil é o de estar presente no mundo, e firmemente presente até o martírio como João, sem impulsionar uma “instituição” em vez de impulsionar a Pessoa de Cristo. Papel missionário sempre difícil é o de anunciar a Boa Notícia e não uma raça, uma civilização, uma cultura ou um país: “É preciso que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).

Anunciar a Boa Nova e não uma determinada espiritualidade, uma determinada ordem religiosa, uma determinada ação católica especializada. Como João, mostrar a seus discípulos onde está para eles o “Cordeiro de Deus” e não cercá-los como se fôssemos nós a luz que vai iluminá-los. Esta deve ser a minha e a sua meta: apresentar o Cordeiro de Deus aos outros.

Senhor, dai-me a graça de ser uma verdadeira testemunha, a fim de que com palavras e obras eu Vos leve a todos os povos e nações que não Vos conhecem.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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