“Naquele tempo, Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas.” (Lucas 11, 14)
Meus irmãos e minhas irmãs, nós estamos, neste tempo quaresmal, purificando o nosso coração e resgatando a nossa relação com Deus. E é justamente isso que Jesus faz no Evangelho de hoje, o resgate de um relacionamento, porque o ser humano quando perde a capacidade de se comunicar, de se colocar em relação com o outro, ele está fadado à solidão, ao vazio. Porque nós somos feitos para a comunicação, nós somos feitos para os relacionamentos. Ninguém é chamado a viver numa bolha, isolado, sozinho no mundo.
O Evangelho diz que era um demônio mudo, ele havia se rebelado contra Deus, certamente junto com outros demônios, ele escolhe não mais falar com Deus. E foi assim que Lúcifer fez, ele se rebelou contra Deus. E aqui nós lembramos também a dramática experiência de Adão e Eva que, originalmente, conversavam com Deus, caminhavam junto com Deus e não existia nenhuma barreira entre eles — tanto que eles nem cobriam seus corpos, porque existia aquela pureza original. Após o pecado, eles perderam a beleza do diálogo sincero com Deus, se esconderam, a voz de Deus se tornou estranha aos dois.
É no confessionário que o melhor exorcismo acontece
Lembrando-nos desse episódio de Adão e Eva, nós ligamos ao que está no Evangelho: o pecado nos faz perder a vontade de falar com Deus, o pecado torna muda a nossa oração, e isso é forte. Por isso, é tão importante a confissão individual que nós fazemos neste tempo quaresmal, ou seja, colocar para fora todas as situações, as nossas feridas, as nossas quedas que bloqueiam a nossa relação com Deus, para que, de novo, a nossa oração suba para a presença e o nosso diálogo com Ele seja recuperado.
Eu aconselho você: busque a confissão. Vá à sua paróquia, vá para algum santuário, vá ao encontro de algum padre, mas não meça esforços para fazer a paz com Deus e a paz com a tua consciência, neste tempo quaresmal. Nós precisamos resgatar de novo a nossa comunicação com Deus.
Como eu disse e repito: muitas vezes, a nossa oração ficou muda; muitas vezes, nós comprometemos a nossa oração porque o pecado pesa e sufoca o nosso coração. É no confessionário que o melhor exorcismo acontece. É no confessionário, porque quem rompe com o pecado é uma pessoa livre e não está mais submissa ao diabo ao demônio.
E, no Evangelho, é Jesus quem rompe esse muro de separação, porque ele liberta aquele homem daquele espírito impuro, liberta o coração do homem da mudez, ou seja, da incapacidade de diálogo com Deus.
Enquanto a palavra diabo significa divisor — diabolos, aquele que divide —, Jesus é Aquele que une, é Aquele que, de novo, nos coloca em comunhão, em unidade com o Pai do Céu. Por isso, professamos a nossa fé; e o credo que nós professamos vem da palavra “símbolos”, que quer dizer, unir, colocar juntos, é o contrário de diabolos.
Jesus nos une de novo ao coração do Pai do Céu, Jesus resgata em nós a capacidade de rezar, a capacidade de falar com Deus, de nos abrir na presença de Deus, nos comunicar com Ele. E uma vez que é resgatada essa comunicação com Deus, nós também podemos nos comunicar uns com os outros, comunicar a boa nova, comunicar Jesus Cristo.
Sobre todos vós, desça a bênção do Deus Todo-poderoso. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!