Naquele tempo, disse Jesus à multidão: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão discípulos de Deus’” (João 6,44-51).
Tudo é dom de Deus
Muito bem, meus irmãos e minhas irmãs, o texto é muito claro: ninguém é capaz de ir até Deus se não for Deus a atraí-lo antes disso.
Tudo é dom de Deus, é pura dádiva de Deus em nossa vida, e todas as coisas que nós vivenciamos.
Entender e interiorizar isso tira tanto peso de nós, tanto sentimento de culpa na nossa vida! Aqueles momentos em que nós não conseguimos ser quem deveríamos ser. Quantas vezes nós quebramos as nossas alianças, nossas promessas! Entender que nós não podemos fazer nada sem a graça de Deus. É Deus que nos constrói, é Deus que nos edifica.
Quantas vezes nós nos culpamos por não ter a fé que nós gostaríamos de ter, uma fidelidade que nós gostaríamos de viver! No lugar de nos flagelarmos, busquemos pedir a Deus certos dons que nos farão ser mais d’Ele, mais íntimos d’Ele.
Tem um prefácio na liturgia eucarística que me toca muito, chama-me muita atenção, e eu gosto sempre que posso de rezá-lo na Santa Missa.
Ele diz assim: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de vos louvar, eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproxima de vós por Jesus Cristo, vosso filho e Senhor nosso”.
Certamente, você já ouviu esse prefácio, mas talvez não tenha se dado conta daquilo que ele expressa e o que está no Evangelho de hoje.
Deus permite que nos aproximemos d’Ele, porque Ele é puro amor e se sente atraído, não pela nossa auréola, pela nossa santidade, mas se sente atraído pelas nossas misérias, pelos nossos pecados. É uma loucura dizer isso, mas não é pela nossa santidade que Deus se atrai. O que desperta o amor de Deus e faz com que Ele se aproxime de nós, é o amor que Ele tem por cada um de nós.
Por isso, alegremos o nosso coração por tão grande dom!
Nós não somos capazes, por nós mesmos, de dar nenhum passo na direção do Senhor. Deixemos esse engano pelagianista de lado!
Pelagianista refere-se a um pensador, digamos assim, um teólogo: Pelágio. Ele pensava que o seu esforço produzia nele um estado de graça. E o então Papa Bento XVI, dando uma explicação sobre esse mal que perdurou por muito tempo na Igreja, dizia assim: “Os pelagianos não querem ter nenhum perdão e, em geral, nenhum verdadeiro dom de Deus. Eles querem estar em ordem, não perdão, mas sim uma justa recompensa. Eles querem não esperança, mas segurança. Com um duro rigorismo de exercícios religiosos, com orações e ações, eles querem obter um direito à bem-aventurança”.
Falta-lhes a humildade essencial para todo amor, a humildade de receber dons para além do nosso agir e do nosso merecer.
Nunca será merecimento, será sempre graça de Deus.
Sobre todos vós, desça a bênção do Deus Todo-Poderoso: Pai e Filho e Espírito Santo. Amém!