A ideia central do Evangelho de hoje é a união permanente do discípulo com Jesus mediante o amor, isto é, mediante o cumprimento dos Seus mandamentos; porque o amor prova-se na obediência da fé. Este breve texto é uma transição entre a comparação da videira e a declaração de amizade que Cristo depois fará aos que até então não eram mais que Seus discípulos.
O amor mútuo do Pai e do Filho transvaza-se de Cristo para o discípulo e deste para os irmãos; Jesus diz: “Como o Pai me amou, assim eu vos amei; permanecei no meu amor”. Cristo afirma agora do amor o que antes disse da vida no Seu discurso do pão da vida: “Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim”. Amor e vida são conceitos intercambiáveis e realidades equivalentes na literatura joanina.
E como permanecer no amor de Cristo? “Se observais os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor”, diz Jesus, porque “aquele que me ama guardará a minha palavra”. As expressões “aquele que me ama” e “permanecereis no meu amor”, entendidas à luz de toda a mensagem de Cristo, equivalem a “aquele que ama o irmão ama-me a mim”. Por que, que pode estar seguro de mar a Deus e a Jesus, a quem não vê, senão amando o irmão a quem vê? Por isso, mais adiante Jesus insistirá no amor fraterno.
Amar o Senhor é guardar os Seus mandamentos. Amor e obediência não são adjetivos que se excluam um ao outro. Porque o amor brota da obediência, e esta, por sua vez, exprime e aumenta o amor, como sucede com Cristo a respeito do Pai. A relação existente entre o amor e a obediência é muito estreita; apoiam-se e completam-se mutuamente. Quando o amor leva a sacrificar o próprio querer para se conformar com a vontade do outro, conseguindo a fusão de vontades, então o amor é maduro e realiza-se o que dizia São João da Cruz: “Amada no amado transformada”. A felicidade está em relação direta com a capacidade de sacrifício.
O amor e a obediência unidos criam alegria gozosa. Por isso Cristo comunica a sua alegria aos seus, como uma antecipação da felicidade eterna de amar e ser amados. O amor gera alegria quando é totalmente livre, isto é, quando está completamente isento de egoísmo e de interesse próprio. O amor é compreensível e prestável, “não é invejoso, não é egoísta, não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, tudo desculpa, tudo espera, tudo suporta”, como diz a Sagrada Escritura.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova
*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia. p. 231-232. Paulus: 2000.