“Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?’ Jesus respondeu: ‘Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão, e, prostrado, suplicava: ‘Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!’. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida”. (Mateus 18,21-27)
Meus irmãos e minhas irmãs, hoje, nós temos uma formação a respeito do perdão recebido de Deus e do perdão oferecido àquelas pessoas que nos ofenderam. Pedro é o nosso porta-voz, como sempre, o nosso exemplo; ele nos representa e aproxima-se com a sua cabecinha calculista, com a sua métrica e a sua cabecinha justiceira.
Jesus responde apresentando um perdão com medida infinita e uma excessiva misericórdia, o perdão quebra aquela corrente do mal. Perdoar não é, na expressão como nós dizemos, “tapar o sol com a peneira”, mas assumir, de fato, aquilo que aconteceu. Não é fingir que aquela realidade não aconteceu, o perdão passa pela consciência de quem perdoa com muita clareza, clareza essa que pode não estar na mente de quem ofendeu.
Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”. Aquelas pessoas não tinham noção do mal que estavam fazendo, mas, ainda que houvesse uma clara consciência do mal praticado, eu não posso deixar que aquele mal passe por mim e ganhe mais força, pela vingança, pelo ressentimento, pelo meu desejo de justiça, pela minha raiva.
O perdão cristão é a memória de ter sido perdoado
Existe um ponto aqui, nessa parábola, que me chama a atenção, aquele empregado que foi perdoado, ao sair dali, diz a Palavra, ele encontrou um dos seus companheiros. O padre não leu o texto todo, mas diz que ele encontrou um dos seus companheiros.
O termo usado aqui é syndoulos, ou seja, aquele que também é servo do mesmo jeito que o outro, é algo que acomuna os dois, que os torna semelhantes, pois o outro também é um devedor assim como o primeiro – e olha que a dívida do primeiro era infinitamente maior que a do segundo, e não há perdão.
O perdão recebido não se tornou um lema de vida para aquele empregado, não produziu conversão e não produziu um coração misericordioso. Triste. Por isso muita atenção, pode ser que esse empregado revele algo de mim e de você, porque também, muitas vezes, nós batemos à porta de Deus pedindo piedade, pedindo misericórdia, somos perdoados desmedidamente. Mas como nós tratamos os nossos irmãos que precisam do nosso perdão? Por isso o perdão cristão é a memória de ter sido perdoado. Eu perdoo, porque eu me recordo que, um dia, eu fui perdoado, desmedidamente perdoado por Deus de uma dívida impagável, incalculável, e Deus cancelou tudo.
Sobre você, desça a bênção do Deus Todo-poderoso. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!