O Evangelho de hoje, a partir da narração de São Marcos, nos apresenta Jesus enviando Seus discípulos, dois a dois, para pregarem a Boa Nova do Reino.
Muito interessante percebermos algo que é fundamental: Jesus chama em um primeiro momento; num segundo momento, pede que o discípulo fique com Ele; e num terceiro momento o envia para a missão. O processo é exatamente nesta ordem; nosso chamado primeiro consiste em ficarmos – nos encontrarmos – com o Senhor.
Mas por que o Senhor nos chama para estar com Ele frente a tanto que precisaríamos fazer com relação à evangelização? Seria – humanamente falando – muito mais coerente e necessário enviar logo os discípulos para a missão. Se fosse assim, o que os discípulos poderiam dar? Ninguém dá o que não tem. Isso mostra que Jesus não chama pessoas prontas; pelo contrário, as chama à restauração. Aliás, toda vocação (chamado) possui poder de ressurreição, ou seja, Jesus chama (vocação) para estarmos com Ele; estando com Ele, somos curados, libertos e restaurados. Saboreando tudo isso, então sim, somos enviados para levar a Boa Nova – cura, libertação e vida às pessoas.
Quantos se justificam dando seu “não” ao chamado de Deus devido aos pecados e às misérias que possuem…! Caso assim fosse, Jesus não chamaria ninguém. Chamados aqueles possuidores de misérias – cada um de nós – o Senhor quer nos curar e enviar; mas não quer somente nos enviar para evangelizar: quer enviar para evangelizar com um instrumento poderoso: a ferida, agora curada. Deus quer transformar nossos pecados, nossas feridas, nossas misérias em carisma, em dom, em vida para a vida dos outros. Deus quer aproveitar-se das nossas misérias para curar, através de nós, os irmãos. Por exemplo: uma pessoa curada, liberta, restaurada, do pecado do alcoolismo, do adultério, do roubo, torna-se canal da graça na vida daqueles que sofrem daquilo que um dia ela sofreu. Por excelência, ela consegue se compadecer – se colocar com a dor (paixão) do outro, pois já passou por aquilo.
Então, aquele que um dia foi curado torna-se canal da graça na vida daquele que agora sofre. A natureza nos mostra esta verdade: a terra, quanto mais fedida for por causa do esterco, tanto mais cheirosa será a rosa; e mais verdinha e macia será a alface. Deus sabe o que fazer com as nossas misérias. Desde que Lhe permitamos nos curar!
Não levemos nada pelo caminho, a não ser o amor, a experiência de vida e a graça da experiência adquirida com Deus. Tudo, além disso, é “tranqueira”, que servirá – unicamente – para atrapalhar e desmotivar a missão. Aliás, quem precisa de muita coisa fora, é porque muito vazio está interiomente; por outro lado, quem está cheio, interiormente, da graça de Deus nunca precisará de nada exteriormente, além do necessário, que virá pela providência e não de nossas preocupações.
Que Deus nos dê a graça de respondermos ao chamdo e ao envio com generosidade de coração.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova