“Naquele tempo, os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: ‘Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?’ Jesus respondeu: ‘Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles?’” (Marcos 2,18-19)
Meus irmãos e minhas irmãs, essa temática é bem conhecida de todos nós. A preocupação dos discípulos de João e dos fariseus não é a de praticar o jejum para se tornarem pessoas melhores, mas é o incômodo por quem não está praticando, quem está fazendo de um modo diferente. Desviaram a atenção da prática religiosa tão profunda e eficaz, que é o jejum, para cuidar da vida alheia.
Já me cansei de ser abordado nas confissões pelos “caçadores de pecados”; explico: são pessoas que ficam buscando no Código de Direito Canônico, no Catecismo da Igreja Católica, nos documentos Papais, motivos para se autopunir e para punir os outros. Foram tantas vezes!
Um tema clássico que aparece nessas realidades é o tema do jejum. Por isso é importante aproveitar essa homilia para trazer para vocês aquilo que diz a própria doutrina. Vamos ver no Código, fica no 1249: “Todos os fiéis, cada qual ao seu modo, por lei divina, têm a obrigação de fazer penitência; para que todos se unam entre si em alguma observância comum de penitência. Nesses dias, os fiéis, de modo especial, dediquem-se à oração, exercitem obras de piedade e de caridade, renunciem a si mesmos, cumprindo mais fielmente as próprias obrigações e, sobretudo, observando o jejum e a abstinência”.
Vamos ter muito cuidado com os escrúpulos, a prática pode se tornar uma forma de vaidade e não de piedade
Ou seja, uma norma geral para todos nós, católicos, é que todas as sextas-feiras são penitenciais, são dias de abstinência de carne, mas não somente isso, porque o Código é bem claro: dediquem-se à oração, exercitem obras de piedade, de caridade, e renunciem a si mesmos. Esse é o objetivo de um dia penitencial, esse é o objetivo de se fazer um jejum, de se fazer uma abstinência de carne.
Como eu disse, em regra geral, toda sexta-feira é penitencial, porém — é importante —, para o Brasil, a Igreja permitiu a chamada “comutação”, ou seja, mudar por outra obra de caridade ou piedade a abstinência de carne. Se você não puder fazer a abstinência de carne, você pode comutar, você pode mudar por uma outra obra de piedade ou orações.
Vamos ter muito cuidado com os escrúpulos, a prática pode se tornar uma forma de vaidade e não de piedade. A Via-Sacra, a leitura do Evangelho da Paixão de Jesus, uma visita ao Santuário, são outras obras de piedade que você pode fazer na sua sexta-feira, caso você não possa se abster de carne.
Você está numa festa e será o único diferente que não vai comer carne, porque você está fazendo o seu dia penitencial. Era o dia de se alegrar com a sua família, era o dia de se fazer um com eles, e você poderia exercitar uma outra prática de piedade, além daquilo que você já faz. Não é rezar um terço, não é participar da Santa Missa que você já participa, mas é algo a mais que você pode fazer.
Antes de julgar alguém que não esteja jejuando ou se abstendo de carne, conheça mais sobre o caminho espiritual do seu irmão, foi isso que faltou para esses discípulos de João e para esses fariseus. Eles não conheciam a intimidade que Jesus vivia com os Seus discípulos; e se não conhecemos, não temos direito de julgar.
Vamos fazer as nossas práticas de piedade? Vamos fazer o nosso jejum e a nossa abstinência? Vamos! Para sermos melhores para os nossos irmãos.
Sobre todos vós desça a bênção do Deus Todo-poderoso. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!