Para os laicistas e secularistas fanáticos, os termos “César” e “Deus” são eliminatórios, não podem subsistir juntos, estão em confronto. Para esse público, a fé em Deus e a religião são questão privada e pessoal, sem espaço social. Os ministros do Evangelho e os cristãos, em geral, devem limitar o âmbito da sua voz aos templos e sacristias. Assim tiram a Deus e a Seu Reino o que pertence a Ele: a vida do homem. Jesus disse: Anunciem o Evangelho a todas as pessoas; iluminem a sua luz todos os homens para que deem glória a Deus.
Outros, diferentemente, os teístas empedernidos, pensam que a autoridade civil deve estar a serviço do Evangelho para implantar pela força do braço secular a lei de Cristo. Assim negam a “César” a sua autonomia e os seus direitos.
Mas na solução dada por Jesus não se opõe César a Deus, o temporal ao espiritual, o político ao religioso, a autoridade civil ao Reino de Deus. Na Sua resposta, Cristo não sacraliza a autoridade do que manda, mas reconhece-lhe o direito a mandar e apresenta a obediência civil como um dever do cidadão; por isso concorda com o pagamento do imposto. Mas, ao reconhecer a autonomia do terreno e do poder civil, estabelece, pelo menos implicitamente, uma hierarquia de termos, que a nível da consciência, dá primazia a Deus sobre César.
Cristo apresenta-os como deveres complementares e não eliminatórios em litígio permanente. O “dar a Deus o que é de Deus” é o primeiro; mas daí dimana o fundamento e a obrigação de “dar a César o que é de César”.
A obrigação da autoridade pública é o ordenamento da sociedade para o bem comum; e para conseguir este objetivo conta necessariamente a lei moral, isto é, a lei de Deus. Por isso que a lealdade do cidadão deve à autoridade civil não há de estar necessariamente em luta com a sua obediência a Deus. Mas no caso de conflito de deveres por abuso da autoridade pública, é legítima a discordância, a objeção de consciência, a oposição, a resistência e inclusivamente a desobediência, quando estas normas e lei vão contra a lei natural que Deus colocou em nós ao nos criar.
Tudo que vai contra a lei natural deve ser desobedecido, para que venhamos a obedecer a Deus. Um exemplo que coloca como lei e que vai contra a lei natural: o aborto. Tudo que vai contra a lei natural nunca devemos obedecer!
O cristão deve ser o melhor cidadão, como o foi o próprio Jesus, que acatou a autoridade civil e a lei religiosa do Seu tempo, se bem com lealdade crítica. Nada do que devemos a Deus o tiramos a César; mas também temos que estar conscientes de que a fé religiosa não nos exime, antes nos obriga a prestar á autoridade estatal legítima e justa a obediência devida e a colaboração cívica: pagamentos de impostos, cumprimento das leis, responsabilidade cívica, participação democrática, crítica construtiva e solidariedade na justiça.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova
*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia; p. 361-362. Paulus: 2000.