01 Mar 2013

Uma liberdade que não tem preço, mas peso

De fato, irmãos e irmãs, um dos grandes sinais de que o ser humano foi criado como imagem e semelhança do Deus Uno e Trino (triúno) consiste na liberdade a nós conferida como dom e tarefa.

As Escrituras não somente atestam esta verdade (cf. Gn 1, 26), mas comunicam a grande responsabilidade que daí advém, pois a Santíssima Trindade não nos rebaixou perante as demais criaturas: «Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos, a Lua e as estrelas que Tu criaste: que é o homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te preocupares? Quase fizeste dele um ser divino; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos, tudo submeteste a seus pés» (Sl 8, 4-7).

Embora a pessoa humana não seja igual – e jamais poderá ser – a uma Pessoa Divina, ela é chamada a assemelhar e refletir a Sua Presença Santa. Até que um dia, cada ser humano será confrontado pessoalmente com o Amor Triúno, para então dar conta de sua vida e liberdade no tempo: «E, assim está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento» (Hb 9, 27).

Este recordar do quanto o exercício das nossas escolhas é importante para Deus, servirá para melhor compreendermos o drama apresentado por Jesus, por meio de uma parábola, que pode ser intitulada de «agricultores assassinos» registrada em Mt 21, 33-43.45-46.

Meditá-la, fora de um vício anti-semita, é poder perceber que Deus nos quer todos em contato com as Sagradas Escrituras, e nos perguntando sobre o lugar em que podemos e precisamos ocupar na história de Salvação. Foi por isso que os mais resistentes – do tempo de Jesus – foram sendo introduzidos pelo mesmo na Revelação, feito parábola, onde o dono de uma vinha arrenda-a a agricultores que respondem de modo violento à confiança e dons a eles prestados.

Num certo momento da “estória” abriu espaço para a participação deles: «Ora bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros? Eles responderam-lhe: Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida» (vv. 40-41).

O que eles não esperavam é o sábio Jesus conduzindo-os a um exame de consciência, a fim de que se convertessem e mudassem de vida. Mas, infelizmente, a decisão deles – comunicar o Evangelho – não correspondeu novamente à Misericórdia e Verdade expressas por Cristo Jesus: «Os sumos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados. Embora procurassem meios para prendê-Lo, temeram o povo, que O considerava profeta» (vv. 45-46).

Um Evangelho, como é próprio da graça de Deus, que nos convida a pensar na nossa realidade presente! Claro que o Reino de Deus sempre será um dom do Alto, mas ninguém está dispensado de uma resposta livre e consciente, a começar pelos cristãos.

O Papa teólogo, agora emérito, ensinou com maestria esta verdade: «Certamente, não podemos “construir” o reino de Deus com as nossas forças; o que construímos permanece sempre reino do ser humano com todos os limites próprios da natureza humana. O reino de Deus é um dom e por isso mesmo é grande e belo, constituindo a resposta à esperança. Nem podemos – para usar a terminologia clássica – “merecer” o céu com as nossas obras. Este é sempre mais do que aquilo que merecemos, tal como ser amado nunca é algo “merecido”, mas um dom. Porém, com toda a nossa consciência da “mais valia” do Céu, permanece igualmente verdade que o nosso agir não é indiferente diante de Deus e, portanto, também não o é para o desenrolar da história. Podemos abrir-nos a nós mesmos e ao mundo ao ingresso de Deus: da verdade, do amor e do bem» (BENTO XVI, Salvos na Esperança, nº35).

Por isso, neste tempo que a Igreja Católica vive (e sempre!), não podemos ficar esperando demasiado o surgimento de uma pessoa, líder ou Papa que venha resolver aquilo que passa pela minha disposição sincera e comprometida de tudo submeter ao Senhor da Vinha, do Reino e da Igreja. Submissão esta que não nos aliena e dispensa… Muito pelo contrário! Pois a nossa resposta e participação é tão válida e necessária que, também nós, podemos colocar nos lábios do Senhor da História e Justo Juiz de cada um, àquelas palavras tão duras quanto verdadeiras: «Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos» (v. 43).

Deus nos livre de construirmos, com más escolhas, tal sentença, anteriormente citada! Por fim, oremos para que o Espírito Santo venha iluminar os cardeais no próximo Conclave, para que surja um novo Papa tão bom quanto o anterior, disposto a nos ajudar nesta arte e necessidade de acolher os dons de Deus, sem nunca abusar de sua Divina Misericórdia, nem tampouco da nossa liberdade!

Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova

Pai das Misericórdias

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