14 Feb 2010

Felizes sois vós, pobres em espírito.

Hoje ouvimos as bem-aventuranças dos pobres e os “ais” contra os ricos. Será uma maldição ser rico? Não criou Deus os bens deste mundo para serem usados? Há uma diferença entre possuir os bens deste mundo e ser possuído por eles. É isso que a liturgia nos ensina hoje. Os que possuem bens deveriam ser como se não os possuíssem (cf. 1Cor 7,30-31). O contrário é geralmente o caso: os que possuem se identificam com seus bens. Nem sempre são bens calculáveis em contas bancárias. Participar da camada dominante da sociedade é também um bem, e como é difícil largá-lo para permitir mudanças na estrutura da sociedade!

Como aperitivo, a partir da primeira leitura, a liturgia nos serve uma censura de Jeremias contra os que confiam nos homens: são como os cactos secos no deserto. Quem confia em Deus, porém, é como uma árvore frondosa à beira-rio. Com essas frases, critica a atitude do rei Sedecias e de seus conselheiros, que colocam toda a sua confiança nos pactos políticos que Judá trata de estabelecer com os egípcios, julgando-os bastante fortes para desviar o perigo dos babilônios. Confiança inútil, como a história tem mostrado.

Assim são os que confiam na sua riqueza. Nenhum bem material é definitivo. Conhecendo a história da humanidade, seria ingênuo acreditar que os bens que amontoamos fossem intocáveis. Jesus veio anunciar a Boa Nova aos pobres. Este foi Seu programa. “Felizes sois vós, pobres, porque a vós pertence o Reino de Deus!” Deus não ama o homem por causa das qualidades que ele possa apresentar. Não há nada em nós que não venha d’Ele. O Senhor ama sem olhar status ou riqueza. O judeu piedoso achava que Deus mostrava Sua complacência para com o justo concedendo-lhe sólido bem-estar; julgava o bem-estar um sinal do favor divino. Mas Jesus conhece Deus melhor e vem nos mostrar a verdadeira face do Pai. Por isso começa pelos pobres. Para mostrar que o Altissimo não olha a nossa riqueza, nada melhor que ir aos pobres e dizer: “Vós sois os filhos de Deus; a vós pertence seu Reino”! Não que o pobre seja mais virtuoso que o rico – não sejamos ingênuos -, mas porque Deus o prefere, o escolhe, este se constitui em “opção preferencial”, para que fique claro que a graça vem de Deus e não de algum fator humano.

O que vale para os pobres o vale também para os famintos, os sofridos e, sobretudo, para os perseguidos por causa do Reino. Mas não vale para os “ricos”, os “cheios”, os que têm sucesso neste mundo. Eles já têm sua recompensa. Jesus fala aqui dos que realmente consideram seu sucesso material como a gratificação que Deus lhe deve. Preferem o que já têm? Tudo bem, receberam o que desejavam! Infelizes, pois tudo isso lhes será tirado (cf. Lc 13,16-21). São os mais infelizes de toda a humanidade!

Jesus não é contra os ricos. Tem pena deles. Por isso, os censura e os exorta a uma mudança de mentalidade, o que não deixará de ter seus reflexos na estrutura da sociedade. Não é bem verdade que não há lugar para os ricos na Igreja. Há lugar para eles à medida que se esvaziam de si mesmos e de seus bens, transformando-os em bens para todos. Há varias maneiras para isso.

A segunda leitura mereceria uma consideração à parte. Em um ponto, reforça a mensagem do Evangelho: “Se temos esperança em Cristo somente para esta vida – porque colocamos tudo em função desta vida, até o próprio Cristo -, somos os mais lamentáveis de todos os homens” (1Cor 15,19).

Mas umas perguntas que não querem calar são estas: No que consiste a pobreza e a riqueza evangélica? A riqueza evangélica está nas posses? A pobreza evangélica está nas não posses? Compreendamos uma coisa para não cairmos num fundamentalismo exacerbado: tanto a riqueza como a pobreza não estão fora do ser humano, mas estão dentro do coração. Ou seja, o pobre – “evangelicamente” falando – não é aquele que não possui bens materiais, mas é aquele cuja única riqueza é o Senhor. O rico – “evangelicamente” falando – não é aquele que possui muitos bens materiais, mas é aquele cuja riqueza não é o Senhor, mas as coisas e ele mesmo. Rico é o autossuficiente, que não precisa de Deus e de ninguém. O pobre, por sua vez, é aquele que só depende de Deus.

Padre Pacheco

Comunidade Canção Nova

Pai das Misericórdias

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