09 Nov 2011

Corpo de Cristo, lugar da presença de Deus

Esta é outra história de novidade ou transformação: o próprio Templo será substituído. Destruído em 70 d.C. pelos soldados do exército romano de Tito, o lugar tido como centro de culto e sacrifício pelos judeus, o local da presença de Deus e o símbolo de Sua fidelidade, será ocupado pelo Corpo ressuscitado de Cristo.

A destruição material do Templo foi um desastre acabrunhador para Israel. Para os cristãos judeus, a perda foi suavizada pela teologia joanina do Cristo-templo, que Paulo já ampliara para uma doutrina do cristão-templo (cf. I Cor 6,19).

Essa purificação material do Templo lembra-nos o tipo de atos simbólicos representados pelos profetas. De fato, a maneira de Jesus tratá-lo [Templo], nessa ocasião, assemelha-se à de Jeremias (cf. Jr 7). A ação, embora não seja um milagre, é um sinal, um sinal duplo. O Templo, que logo seria destruído, precisava de purificação. E sua função seria substituída pelo Corpo ressuscitado de Cristo.

Jesus vai a Jerusalém no tempo da Páscoa (v. 13) no início do Seu ministério. Isso contrasta com os outros Evangelhos, nos quais o Senhor vai a Jerusalém apenas uma vez e isso já bem no fim do ministério d’Ele. Com respeito às múltiplas visitas, é provável que, historicamente, João esteja mais correto. Nosso autor tem muito mais interesse em Jerusalém que os outros evangelistas, indicação de que suas raízes estão mais voltadas para Jerusalém do que para a Galileia. Entretanto, é provável que a purificação do Templo tenha ocorrido quase que no fim da vida de Jesus, como os sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) indicam, sendo a última gota que levou à condenação de Jesus. João pode ter transferido a história para a fase inicial da vida de Jesus porque ela se adapta tão bem ao seu tema de “novidade” e porque pretende que a ressurreição de Lázaro seja o incidente que leve à crucifixão.

A menção de “quarenta e seis anos” no versículo 20 é uma das mais claras indicações cronológicas dadas nos Evangelhos (cf. Lc 3,1). A atual construção, terminada no início dos anos 60, foi iniciada por Herodes em 20-19 a.C. A adição dos quarenta e seis anos de João data a cena em mais ou menos 28 d.C. Finalmente, há quatro peculiaridades joaninas que aparecem pela primeira vez nesse incidente:

a) “Os judeus” aparecem como os principais adversários de Jesus. Com certeza, o judeu Jesus e Seus discípulos judeus tinham sua cota-parte de dificuldades com seus contemporâneos judeus, mas a distinção marcante entre Cristo e os judeus deve ecoar o antagonismo – mais tardio e mais intenso – entre judeus e cristãos na época da comunidade de João.

b) Encontramos nos versículos de 19 a 21 a primeira apresentação de uma técnica dramática pela qual o autor diz o que quer progredindo da ambiguidade para o mal-entendido e daí para a compreensão. A ambiguidade do versículo 19 leva ao mal-entendido do versículo 20 e ao esclarecimento final do versículo 21. A técnica ocorre com frequência no Evangelho.

c) O versículo 22 conta-nos que muitas das palavras e ações de Jesus não foram entendidas durante Sua vida e se tornaram inteligíveis somente à luz de Sua Ressurreição. É dessa perspectiva que o nosso evangelista escreve.

d) Por fim, no versículo 23, João fala dos muitos que creram porque viram os sinais que Jesus operou. Aqui devemos ser cautelosos. Nesse e nos versículos seguintes, João não está falando de uma fé profunda e vivenciada. Ele está falando da fé inicial dos que simplesmente veem os sinais. Não são os que veem que se tornam verdadeiros discípulos, mas os que compreendem. No incidente que se segue, veremos um homem atraído por sinais (3,2), mas que não compreende o que eles significam.

Com Jesus a presença de Deus não está no Templo, mas sim no próprio Cristo e em cada membro da comunidade (segunda leitura) que vive o serviço e a partilha com amor e misericórdia.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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