12 Feb 2010

Ser cristão é ser comprometido!

O Evangelho mostra, no dia de hoje, a atitude surpreendente de Jesus em relação aos excluídos, em relação aos sem voz e sem vez da sociedade. Depois de ter dado as “migalhas” do pão dos filhos – Evangelho de ontem -, o Senhor cura, na mesma região pagã (a Decápole), um surdo-mudo, e o povo se põe a clamar: “Tudo ele tem feito bem!” Com isso Cristo realiza o que o profeta Isaías sonhou para o tempo do Messias: os olhos do cego vão se abrir, abrem-se também os ouvidos dos surdos, os aleijados vão pular feito cabrito e a língua dos mudos entoará um cântico.

Convém lembrar aqui que os cegos, os coxos, um surdo-mudo, enfim, os portadores de necessidades especias eram excluídos do templo… A vinda do Messias transforma os excluídos – pagãos, coxos, cegos, surdos, mudos, favelados, presos, enfim, marginalizados – em filhos do Reino de Deus.

Conforme Santo Irineu, a glória de Deus é que o ser humano tenha vida e a tenha em abundância – e a vida do ser humano é contemplar a Deus. Trata-se de uma certeza fundamental de nossa fé: Deus deseja que todos tenham vida.

O evangelista Marcos não quer apenas mostrar que Jesus era um grande filantropo, mas que nesta atitude consiste o cumprimento do plano de Deus, aquilo que tradicionalmente se chama “paz”, o dom de Deus trazido presente por Seu Ungido, o Messias. O Evangelho de hoje mostra isso claramente.

Unindo em uma só pessoa dois defeitos, a surdez e a mudez, Marcos lembra imediatamente o texto de Isaías 35, no qual a cura de surdos e de mudos faz parte do tempo messiânico. E, para reforçar a nota, repito como acima, o povo exclama: “Ele fez tudo bem feito”, vislumbrando a obra messiânica de restauração do paraíso. Lembra como Deus “fez tudo bem” no início (cf. Gn 1,31ss).

Porém, a intenção de Marcos vai mais fundo. Para reconhecer que Jesus é o Messias é preciso que o homem esteja aberto. Ora, nem mesmo os discípulos eram fáceis de “abrir”. Jesus não apenas “faz as coisas bem feitas”, como Ele também nos abre o coração para vermos o Reino de Deus, que está aí, onde se faz a Sua vontade e se revela Seu amor. O evangelista insiste quase exageradamente no gesto material com que Jesus faz seu “trabalho”: impor as mãos, aplicar saliva, elevar os olhos, gemer, dizer “effatá “(“abre-te”)… Não é fácil abrir o ser humano para o mistério de Deus.

Creio profundamente que Marcos capricha na apresentação dos gestos feitos por Jesus, para nos dizer que não basta termos sentimentos bonitos para com aqueles que mais precisam da nossa ajuda… É impressionante nós vermos como a grande maioria das pessoas chora, se comove, fica emocionada, tocada, quando deparam com uma obra profundamente social feita na Igreja. Todavia, entretanto, quando apresentamos que aquilo acontece como fruto de corações comprometidos pela causa, corações generosos… e que se precisa contar também com elas, então sim, conhecemos quem é quem. Ou seja, há muita gente comovida por aí; praticamente a maioria…! Mas cristãos comprometidos – redundância – é difícil encontrarmos; infelizmente, na maioria das vezes.

O Senhor quer continuar fazendo bem todas as coisas no que compete a trazer os excluídos para dentro da sociedade; mas Ele também quer contar conosco, com o nosso comprometimento. Meus irmãos, como encontra-se, por exemplo, o nosso dízimo em nossa paróquia – que existe, também, para promover um trabalho social sério no âmbito paroquial e diocesano? Nem me refiro a um comprometimento – além do dízimo, em primeiro lugar – com uma causa social séria, enquanto lugar onde são acolhidos os excluídos da nossa sociedade…! Muitos de nós, infelizmente, poderemos, no dia do juízo final, ter uma terrível surpresa; o Senhor poderá nos dizer: “Afastai-vos de mim, malditos! Não vos conheço”. E movidos por uma hipocrisia, se poderá dizer: “Senhor, preguei em Teu nome; fui de Eucaristia diária; orei muitas vezes em línguas; fui servo de grupo de oração; fui padre; fui ministro extraordinário da Sagrada Comunhão; enfim, Senhor, fui ‘o cara’…!” E Ele dirá: “Sai da minha frente, pois não te conheço, alma comovida e não comprometida… Suma da minha frente, pois tive fome, sede, passei frio, estive preso, era marginalizado…, e, no entanto, não me deste de comer, de beber, não me vestiste, não me visitaste, não me acolheste. Não compactuo com a tua comoção, alma descomprometida! Mas você alma comprometida com o meu amor e com os irmãos: vinde para o teu lugar que preparei para ti desde sempre, pois foste sério, radical; fizeste bem todas as coisas. Vinde, bendito de meu Pai!”

Padre Marcos Pacheco

Comunidade Canção Nova

Pai das Misericórdias

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