04 Sep 2011

Comunidade cristã, lugar da acolhida e misericórdia

Para entendermos melhor o trecho de hoje temos de ter em mente a figura do pastor que vai procurar a ovelha que se perdeu, deixando as noventa e nove nas montanhas. Só assim chegamos ao caso concreto: alguém da comunidade cometeu falta grave contra seu irmão. Como reagir? Fazendo-se de vítima? “Pondo a boca no mundo” e denunciando o erro?

A primeira atitude – talvez a mais difícil – é perdoar e ir à procura de quem errou na qualidade de quem já perdoou, a fim de mostrar ao outro o erro e convidá-lo novamente a se reintegrar na comunidade: “Se o seu irmão pecar, vá e mostre o seu erro, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele lhe der ouvidos, você ganhou o seu irmão”.

Quero, porém, recordar a você que não se trata de “ganhar o irmão para si”, mas sim para a comunidade e, sobretudo, para Deus. Porque quem ofendeu um membro da comunidade rompeu, de certa forma, com a comunidade como um todo.

Como o pastor que procura a ovelha perdida, a justiça do Reino não se cansa e tenta outra forma de aproximar quem errou: “Se ele não lhe der ouvidos, tome consigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas”. À primeira vista, tem-se a impressão de que estaríamos fazendo um cerco em torno de quem errou. Mas essa atitude pode ser vista sob a ótica da justiça do Reino, que tem como princípio fazer de tudo para que o irmão não se perca. E se isso não der certo, toda a comunidade é chamada a se pronunciar: “Caso não dê ouvidos, comunique à Igreja”.

E se, depois de esgotados todos os recursos, depois de ter dado a quem errou a oportunidade de ouvir o parecer de toda a comunidade é que a pessoa, por decisão de todos, é excluída: “Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de impostos”. Mesmo nesse caso a comunidade deve manter-se em atitude prudente, dando uma chance a longo prazo para que a pessoa se arrependa e volte à comunidade.

Antes de condenar ou excluir alguém, é preciso aprender a justiça do Reino. E ter consciência de que os passos aconselhados por Jesus não são normas rígidas, e sim um modo de agir que tempera com justiça, misericórdia e caridade as relações entre pessoas. Em outras palavras, é preciso ser criativo no esforço de recuperar quem erra e se afasta da comunidade. E o espírito que anima essa tarefa não é o da exclusão, mas o da busca para reintegrá-lo.

Se no capítulo 16 de Mateus, Jesus confia a Pedro a tarefa de ligar e desligar, no texto de hoje, essa missão é confiada à comunidade como um todo. Pois Pedro é sinal, é figura representativa de toda a comunidade dos seguidores de Jesus.

Ligar e desligar são termos jurídicos e atribuições da comunidade inteira: “Tudo o que vocês ligarem na terra será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra será desligado no céu”. Mateus nos mostra que o mais importante para a comunidade não é excluir alguém, mas sim a capacidade de integrar a essa pessoa.

Tomar a decisão de incluir ou excluir pessoas da comunidade não é tarefa fácil, como pretendiam e faziam os chefes da sinagoga daquele tempo. É necessário que tenhamos sempre em conta a advertência de Jesus: “Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus”.

Para tanto, Cristo dá algumas indicações, que passam pela necessidade das pessoas se reunirem em nome d’Ele, a fim de – mediante a oração – chegarem a um consenso: “Se dois de vocês estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa (isto é, sobre qualquer tipo de litígio) que queiram pedir, isto lhes será concedido por meu Pai que está no céu. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles”.

É urgente que a comunidade esteja sempre ligada a Cristo pelo fato de que, nela, existem tensões entre os diversos grupos e problemas de convivência: há irmãos que se julgam superiores aos outros e que querem ocupar os primeiros lugares. Há irmãos que tomam atitudes prepotentes e que escandalizam os pobres e os débeis. Há irmãos que magoam e ofendem outros membros da comunidade. Há irmãos que têm dificuldade em perdoar as falhas e os erros dos outros. Somente estando em permanente sintonia com Jesus, que nos convida à simplicidade e humildade, ao acolhimento dos pequenos, pobres e excluídos, ao perdão e ao amor que conseguiremos vencer.

Aliás, com Jesus e pela força da oração tudo pode ser mudado. Só assim seremos uma comunidade verdadeiramente família de irmãos, que vive em harmonia, que dá atenção aos pequenos e aos débeis, que escuta os apelos e conselhos do Pai e que vive no amor do Filho, animada pelo Espírito Santo.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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