26 Feb 2013

É necessário buscar a coerência de vida entre o que se crê e o que se celebra

Na liturgia de hoje, estamos diante de uma crítica à religião falseada pela ausência de ética verdadeira, o culto fantasiado em ritos que não expressam a experiência de Deus e a Sua soberana vontade. Somente a vivência da aliança garante unir comportamento e culto, vida e religião, moral e mística. Esta fidelidade à aliança com o Senhor é a pregação profética dirigida aos sacerdotes e a crítica de Jesus aos escribas e fariseus.

Jesus denuncia a hipocrisia dos que se consideram mestres em Israel, porque, conhecendo a crítica dos profetas, apresentam-se como justos, isto é, observantes, unindo a vida ao culto, mas, na realidade, atraem com sua observância a atenção dos homens para si mesmos e não para Deus, ao buscarem a admiração e o reconhecimento como pessoas dignas de honra.

A hipocrisia, portanto, diz respeito – ainda que de forma sutil – também à incoerência entre religião e ética, expressando a não autenticidade do culto ou de vida, quando há observância.

Jesus se mostrou intransigente contra a hipocrisia farisaica, até porque atinge a fé na Sua pessoa e no Seu ministério. Só foi intolerante em relação aos pecadores, contra os escribas e fariseus. Para convocá-los e denunciar-lhes a dureza de coração, afirma que “os publicanos e as prostitutas os precediam no Reino de Deus” (Mt 21,31).  Em contrapartida, a hostilidade deles confirma que a hipocrisia é o pior obstáculo a impedir o caminho salvífico proposto por Jesus que supõe o assentimento da fé.

Jesus, fontre de Luz, torna-se, paradoxalmente, a cegueira do fariseu ao desvendar-lhe a hipocrisia. Podemos, portanto, afirmar que se trata de visar os próprios interesses e não os de Deus. Ainda que aparentemente afirmando-os, isso impossibilitou, espantosamente, que homens religiosos e de estrita observância reconhecessem o Messias por eles esperado, e favoreceu que impedissem a muitos de reconhecê-lo.

Por ser o ideal cristão muito elevado, a nossa justiça deve exceder a dos escribas e fariseus. Temos de ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito. Os fiéis de Cristo, independentemente da busca sincera ou não de coerência, podem ser vistos ou podem se ver como hipócritas, isto é, merecedores da repreensão de Jesus: “Fazei e observai tudo quanto vos disserem. Mas não imiteis as suas ações, pois dizem e não fazem”.

Entretanto, há que se distinguir: uma coisa é não buscar a coerência de vida entre o que se crê e o que se celebra, fantasiando a religião, ritualizando os sacramentos, esvaziando a fé de seus compromissos. Outra coisa é admitir a condição do homem fraco, falível e pecador que, mesmo buscando avidamente a coerência, descobre-se sempre em defasagem entre a mensagem e suas exigências e, por isso, vive a fé com humildade, em estado permanente de conversão e de busca constante do verdadeiro rosto de Deus.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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