28 Dec 2010

O grito de nossas crianças

Hoje é o dia que a Igreja escolheu para a festa dos Santos Inocentes, mártires; dia em que o Evangelho nos fala da matança de crianças inocentes, ordenada por Herodes.

Quero juntar, a todos estes Santos Inocentes anônimos, todos aqueles a quem não foi permitido nascer. Junto ainda: a criança de que hoje foi dada notícia da sua morte por maus-tratos e todas as que, como esta, já sofreram o mesmo martírio.

Com efeito, Deus, Senhor da Vida, confiou aos homens, que estes desempenhassem, num modo digno, o nobre encargo de conservar a vida, a qual deve, pois, ser salvaguardada com extrema solicitude desde o primeiro momento da concepção.

O aborto e o infanticídio são crimes abomináveis! A Igreja honra, como mártires, este coro de crianças, vítimas do terrível e sanguinário rei Herodes, arrancadas dos braços de suas mães para escrever, com o próprio sangue, a primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos a merecerem a glória eterna, segundo a promessa de Jesus:

Quem perder a vida por amor de Mim, há-de reencontrá-la“.

Para eles, a Liturgia repete hoje as palavras do poeta Prudêncio: “Salve, ó flores dos mártires, que na alvorada do Cristianismo fostes massacrados pelo perseguidor de Jesus, como um violento furacão arranca as rosas apenas desabrochadas!”

Vós fostes as primeiras vítimas, a tenra grei imolada num mesmo altar recebestes a palma e a coroa.

O episódio é narrado somente pelo evangelista Mateus que se dirigia principalmente aos leitores hebreus e, portanto, tencionava demonstrar a messianidade de Jesus, no qual se realizaram as antigas profecias:

Quando Herodes descobriu que os sábios o tinham enganado, ficou furioso. Mandou matar em Belém e nos arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo que ele tinha apurado pelas palavras dos sábios“.

Foi assim que se cumpriu o que o profeta Jeremias havia dito:

Em Ramá se ouviu um grito: coro amargo, imensa dor. É Raquel a chorar seus filhos e não quer ser consolada, porque eles já não existem“.

A origem desta festa é muito antiga. Aparece já no calendário cartaginês do século IV, e cem anos mais tarde em Roma no Sacramentário Leonino.

Hoje, com a nova Reforma Litúrgica, a celebração tem um carácter jubiloso e não mais de luto como o era antigamente, e isso em sintonia com os simpáticos costumes medievais, que celebravam, nestas circunstâncias, a festa dos Meninos do Coro e do Serviço do Altar.

Entre as curiosas manifestações, temos aquela de fazer descer os cônegos dos seus lugares ao canto do versículo: “Depôs os poderosos do trono e exaltou os humildes“. Deste momento em diante, os meninos, revestidos das insígnias dos cônegos, dirigiram todo o ofício do dia.

A nova Liturgia, embora não querendo ressaltar o caráter folclórico que este dia teve no curso da história, quis manter esta celebração elevada ao grau de festa por São Pio V, muito próxima da festa do Natal.

Assim, colocou as vítimas inocentes entre os companheiros de Cristo, para circundar o berço de Jesus Menino de um gracioso coro de crianças, vestidas com as cândidas vestes da inocência, pequena vanguarda do exército de mártires que testemunharão, com o sangue, sua pertença a Cristo. Ontem, assim como hoje, continuam os gritos e as vozes de crianças inocentes que já não existem mais. Nós devemos ser o grito e a voz delas no nosso mundo.

Padre Bantu Mendonça K. Sayla

Pai das Misericórdias

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