Começamos nossa reflexão citando as palavras do anjo a José no que toca à concepção e, consequentemente, ao nascimento de Jesus.
José, timbrado e carimbado nas Sagradas Escrituras, depara-se com uma situação humanamente impossível: sua esposa está grávida sem a ter conhecido como esposa. Como será isso e que procedimento seguir? Se ele a tivesse conhecido antes de viverem juntos, seria o pior vexame que teriam passado, além de correrem o risco de ser apedrejados pela cultura do tempo; o que seria o de menos, pelo fato de terem violado a Lei. O enigmático é que conscientemente isso aconteceu e ela aparece grávida.
Alguém lhe teria passado para trás? Ou a própria Maria o teria traído? Devido ao adjetivo a ele atribuído e sem querer difamá-la, porque era justo, José resolveu abandonar o amor da sua vida em segredo. Mas, enquanto pensava nisso, Deus veio ao seu encontro por intermédio de um anjo.
Na intervenção de Deus, neste momento de profunda angústia e confusão desse grande santo da Igreja, manifesta-se o triunfo da justiça divina sobre os homens e mulheres fiéis a Ele, observantes de Seus mandamentos. “Aos homens retos, darei alegria plena”, afirma o Senhor, que está ao lado da justiça e julga segundo o que vê; não segundo as aparências.
A atitude de silêncio interior de José pode ser entendida como o tempo da meditação, de intimidade profunda com Deus, de deixar que Ele fale por nós. Quando nós levamos as nossas preocupações ao Senhor, Ele as faz Suas; então, não somos nós que falamos, mas o Espírito do nosso Pai que fala por nós. Basta fazer a nossa parte, que consiste somente em confiar e saber esperar no Senhor que tudo pode. José não precisou falar alto, nem muito com A ou B. Simplesmente, contemplando o sucedido e rezando, calou-se.
A resposta de Deus não se fez esperar. Imediatamente, agiu mandando o Seu anjo, que diz: “José, descendente de Davi, não tenhas medo de receber Maria como sua esposa, pois ela está grávida pelo Espírito Santo. Ela terá um menino, e você porá n’Ele o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo dos pecados”. Era isso que o pai adotivo de Jesus esperava ouvir. Esclarecida a dúvida, José recebe Maria como sua esposa e toca a vida.
Muitas são as simbologias que podemos encontrar neste texto. Veja por exemplo: com a escolha do homem da casa de Davi, o Evangelho de Mateus quer, teologicamente, inserir Jesus na genealogia davídica para harmonizar a concepção virginal de Maria com a acolhida de José. O estranho é que, só depois de José sofrer profundamente ao perceber, progressivamente, a gravidez da mulher amada, o anjo é enviado a ele, dissipando a terrível dúvida acumulada.
Teologicamente, José, apresentado como inserido na genealogia davídica, representa o antigo judaísmo. De Maria, que está fora desta genealogia, nascerá Jesus. A Santíssima Virgem representa a novidade de Jesus nas comunidades cristãs. Alguém que não pertence à raça, à estirpe, à tribo; no entanto, o novo que se manifesta em Maria escapa à compreensão de José. Era necessário que, do Alto, viesse a luz e ele [José] fosse advertido pelo anjo. E então, ele a acolhe para dizer que os judeus devem aceitar as novas comunidades cristãs, vendo nelas a obra de Deus.
Este judeu pode ser eu, pode ser você, meu irmão, quando diante dos pecadores públicos, dos criminosos, nós nos consideramos justos, sem pecados; por isso queremos nos manter distantes dos leprosos, dos pecadores.
São José, o homem justo, fiel e humilde, compreendeu o desígnio do Pai para com a humanidade e colaborou para que ele fosse realizado. Em que ponto você está?
Assim como aconteceu com José ontem, hoje continua a Palavra de Deus sendo dirigida para nós. Não tenha medo de receber o estrangeiro, o pobre, a viúva, o órfão, o drogado, o doente. Ame-o, assim você transformará a sua vida e salvará sua alma da morte eterna. E assim, celebrará o verdadeiro Natal. (Emanuel quer dizer “Deus está conosco”).
Padre Bantu Mendonça K. Sayla