11 Mar 2010

Escuta eficaz da Palavra*

O texto da primeira leitura, tirada do profeta Jeremias, pertence ao seu terceiro oráculo contra o culto vazio da adesão interior, a qual brota da escuta da Palavra de Deus. Na boca do Senhor, a passagem é cheia de amargura a respeito do Seu povo, obstinado na infidelidade: “A fidelidade perdeu-se, arrancaram-na da boca”. Por isso Jeremias teve que proclamar da parte de Deus a ruína iminente da nação. Mas como  o Senhor mantém as Suas promesas, salvará um resto do povo judeu, apesar da sua dureza de coração, como recorda o salmo responsorial.

A história repete-se. Quando Cristo chegou a Israel, encontrou a mesma obstinação, como vemos no Evangelho de hoje. Se os contemporâneos do grande profeta [Jeremias] eram surdos à Palavra de Deus, os de Jesus são cegos aos Seus sinais. Depois de Cristo expulsar um demônio de um mudo, há alguns que dizem: “Se expulsa os demônios, é por arte de Belzebú, o príncipe dos demônios”. Absurdo, responde Jesus: Se Satanás luta contra si mesmo, como manterá o seu Reino? “Se eu expulso os demônios com o dedo de Deus, então o reino de Deus já chegou a vós”.

Mas os críticos do Senhor, Seus inimigos, não detêm a sua má-fé diante de nada, até O ponto de caluniarem como cúmplice do demônio. Calúnia que é classificada por Marcos como imperdoável: “blasfêmia contra o Espírito Santo”. Os judeus, como em geral os antigos, atribuíam à possessão diabólica as doenças mentais e os casos de epilepsia. Frequentemente Jesus se conformou com tal mentalidade, sem disso fazer problema, pois não invalidava o alcance de Suas curas milagrosas.

Nessa ocasião, Ele acrescentou: “O que não está comigo, está contra mim”, concretizando a profecia do velho Simeão, que proclamava Cristo como sinal de contradição e pedra de tropeço. Na opção que temos de fazer entre os dois espíritos – para seguir a mentalidade semita -, entre o bem e o mal, isto é, a favor ou contra Cristo e o Seu Reino, não temos outra escolha válida, senão a obediência à Palavra de Deus, porque este é o único caminho que conduz à vida.

Somente optando pelo Senhor, que é o mais forte e venceu o mal, será possível também a nossa vitória sobre o pecado que tenta tomar conta de nós. Toda escolha supõe um sacrifício e uma renúncia a alguma coisa. Assim, em vez de sermos escravos do egoísmo tenebroso, que quer fazer-se senhor do nosso desprezível mundo, poderemos derrotá-lo à base do amor, vencendo o mal com o bem.

Para consolidar esta opção por Cristo temos de pôr em prática a Palavra escutada. Porque o perigo do culto vazio, fruto da surdez à Palavra escutada, como denunciava o profeta Jeremias, tem aplicação também hoje nas nossas comunidade cristãs. A Palavra de Deus é eficaz, certamente, mas não de maneira automática, isto é, sem a nossa colaboração.

A manifestação mais profunda de Deus, a Sua palavra mais pessoal, não se esgota na proclamação das leituras bíblicas nem na pregação e comentários destas, embora sejam ambas importantes. O nível mais fundo da eficácia da Palavra de Deus alcança-se no mistério da fé, ou seja, no mesmo acontecimento salvador que celebramos e que a Palavra atualiza misteriosa mas realmente, graças à presença de Cristo ressuscitado atuando pelo seu Espírito na comunidade congregada na fé e na escuta da Palavra.

A nossa geração, que consome ruídos e sons em quantidade, apenas não ouve porque não escuta. Temos de voltar à oração do silêncio, dando-lhe prioridade em muitos momentos da nossa vida, especialmente na celebração litúrgica, para escutar interiormente a palavra eficaz de Deus e atuar em conformidade com ela.

Padre Pacheco

Comunidade Canção Nova

*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia. p. 133-134. Paulus: 2000.

Pai das Misericórdias

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