09 Mar 2010

Um coração humilde e contrito*

O sacrifício agradável a Deus é um coração humilde e contrito. Assim o diz a primeira leitura, que é um extrato do cântico-oração de Azarias no forno de fogo por onde foi atirado por Nabucodonosor. É uma súplica nascida de um coração profundamente entristecido à vista da nação judaica, privada de guias. Acentua-se aqui o valor do sacrifício espiritual de expiação, que compromete o homem mais que as ofertas rituais.

“Aceita, Senhor, o nosso coração contrito e o nosso espírito humilde, como um holocausto de carneiros e bois… que este seja hoje o nosso sacrifício agradável na tua presença.” A auto-oblação do servo paciente, segundo Isaías, e realizada plenamente em Cristo, será o tipo do sacrifício futuro. A comunidade eclesial, todo o cristão, deve entender o culto como um “sacrifício espiritual” da própria vida e pessoa a Deus. Este é o que nos conseguirá o perdão de Deus, cuja ternura e misericórdia são eternas.

Do perdão do Altíssimo e da reconciliação com os irmãos fala também Jesus no Evangelho de hoje. O tema é introduzido pela pergunta do apóstolo Pedro ao Senhor: “Se o meu irmão me ofende, quantas vezes tenho que perdoar-lhe? Até sete vezes? Jesus respondeu-lhe: não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.

Jesus propõe um perdão fraterno ilimitado; é a única maneira de romper a espiral do ódio e da vingança. Mas por que tal perdão sem limite? O que é que sustenta tal doutrina e conduta? O comportamento de Deus conosco, como explica Jesus na parábola: a do devedor impiedoso. O empregado que deve uma soma fabulosa ao seu rei, uma vez perdoado completamente pelo rei-Deus, deveria perdoar por sua vez ao companheiro que lhe deve uma pequena soma. Ao não o fazer, ele mesmo se autocondena a perder o favor e o perdão recebidos.

Sinal e testemunho do perdão recebido de Deus devem ser a nossa disposição para o perdão fraterno e ilimitado. É esta uma das atitudes características do autêntico discípulo de Cristo. Porque esperimenta a misericórdia do Senhor na sua vida e se sabe reconciliado com Deus, o cristão está capacitado e convidado para amar e perdoar o irmão com o mesmo amor e perdão com que ele é recebido. O perdão que temos de conceder a quem nos ofende não é só condição e medida do que Deus nos confere, como dizemos no Pai -Nosso, mas também testemunho e sinal do perdão recebido por Deus.

Embora a Bíblia nos ofereça uns exemplos isolados de perdão no Antigo Testamento, tais como José aos seus irmãos e Davi a Saúl, podemos dizer que, ultrapassada a lei do talião, consagrada e regulada pela lei de Moisés, o perdão fraterno é uma aquisição da plena luz no Novo Testamento. Abriu o caminho o próprio exemplo de Cristo, que morre perdoando aos que o crucificam, e seguiram-No o diácono Estêvão e o apóstolo Paulo perdoando aos seus perseguidores.

O dever cristão do perdão e da reconciliação fraterna não é uma lei fria e impessoal, como um imperativo moral imposto de fora, mas uma consequência necessária do perdão já recebido. Este último é o indicativo que fundamenta o imperativo do perdão fraterno. Somente será capaz de perdoar aos outros o que tenha esperimentado, a cada dia na sua carne, a alegria de um perdão que o reabilita continuamente como pessoa e como filho de Deus. Quem não se sente perdoado, não ama; mas aquele a quem se perdoa muito, ama muito por sua vez o seu próximo.

Quantas vezes nos temos aproximado do sacramento do perdão, que é a Penitência. Por que não saímos perdoando aos outros? Por que não sentimos a necessidade de partilhar com os irmãos o perdão recebido de Deus? Por que continuamos, ao ver a palha no olho alheio, sem que nos incomode a trave no nosso? Não é esta uma denúncia da rotina das nossas confissões e celebrações penitenciais?

Sérios pontos de exame para um dia de Quaresma, que nos pressionam a uma conversão sincera ao Senhor e ao amor que releva e perdoa. Caso contrário, estamos a perder tempo; vítimas de fórmulas religiosas.

Padre Pacheco

Comunidade Canção Nova

*Cf. B, CABALLERO. A Palavra de cada dia. p. 129-130. Paulus: 2000.

Pai das Misericórdias

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