16 Aug 2011

Não entregue seu coração à riqueza

Depois de Jesus nos ter falado sobre o jovem rico, um estudioso da Lei, que cumpre todos os parágrafos, não é desonesto, nem mentiroso, nem violento nem adúltero, Ele nos propõe hoje o texto que nos fala sobre o perigo das riquezas.

Vendo aquele jovem, Jesus acha-o não distante do Reino dos Céus, por isso, o convida a vender tudo e destribuí-lo aos pobres: “Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, e dê o dinheiro aos pobres, e assim você terá riquezas no céu. Depois venha e me siga”. Porém, o conceito que o rapaz tinha de riqueza era divergente ao do Mestre. Para Jesus a Lei é o varal da fraternidade, é resposta à aliança gratuita e generosa oferecida por Deus. É partilha, é comunhão. Assim, se os bens não forem entendidos como dons – que devem ser partilhados com os pobres – não teremos direito a herdar o Reino dos Céus.

Ao jovem, que já era fiel observante dos mandamentos, Jesus faz uma proposta radical: vender tudo, distribuir o dinheiro aos pobres e segui-Lo. O jovem se retirou triste, porque era muito rico. Não teve coragem de desvencilhar-se de tudo, tornar-se discípulo e aderir ao compromisso de construir o Reino. E Jesus adverte sobre o perigo que a riqueza pode significar para a liberdade e o desenvolvimento pleno da pessoa.

O Eclesiástico lembra que a riqueza pode se tornar um forte obstáculo para a integridade (cf. Eclo 32,1-11). Certamente, a palavra de Jesus: “Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19,23-24), além de alertar sobre o risco que corre o rico com relação à sua salvação, alude à dificuldade para um engajamento mais pleno na construção do Reino, que é vida para todos, no aqui e no agora de nossa existência.

Os Padres da Igreja, dos primeiros séculos pós-catacumba, explicam que a razão da dificuldade tem a ver com nossa relação com Deus, com nós mesmos e com os outros. O que entendem por rico e riqueza não é quantidade absoluta de bens, mas situação na sociedade. Quem tem 10% dos bodes da tribo de criadores primitivos é rico; não importa se dispõe de menos bens do que hoje vemos.

Riqueza é condição material concreta e adequada do poder. Mas como o poder em si mesmo ela não é má. O Senhor não condena nem os ricos nem as riquezas, mas adverte os Seus discípulos do perigo que correm se lhes entregarem o coração. Em contrapartida, a atitude desprendida de Pedro e dos outros apóstolos é caminho certo para entrar no Reino de Deus. O mundo novo, que o Filho de Deus nos revelou na Sua Morte e Ressurreição, inaugurou a regeneração do universo, em que tudo é julgado por outros critérios.

A graça de Deus pode fazer gente rica ser profundamente santa. Alguns exemplos: Henrique II, imperador da Alemanha; Luis IX, rei da França; Isabel, rainha de Portugal e a duquesa Edwiges, cujo fundo rotativo de ajuda ao camponês endividado a fez padroeira de todos os endividados.

Mas ser rico é risco. Risco em nossa relação com Deus, exposta a duas variantes da mesma tentação: o ateísmo prático e a idolatria.

A riqueza ameaça nossa relação com nós mesmos. Os bens são nossos servos, para nossa vida e de todos ao nosso redor, para nossa realização como pessoas, também diante de Deus. No momento em que eles não mais nos servem, mas nós servimos a eles, começa o desvio.

A riqueza nos separa dos outros, afasta-nos deles. Os bens deste mundo – em si – são bons, presentes carinhosos do Deus, que quer que todos os seres humanos tenham vida e vida plena.

Que a verdade proferida por Jesus nos ensine a ter um coração mais desapegado dos bens terrenos e mais rico da presença de Deus, pois o desapego dos bens terrenos é um caminho de sincera humildade e confiança n’Ele.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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