13 Jan 2011

Cristo rompe com a religião elitista e segregadora

Pouco a pouco o Evangelho de Marcos vai mostrando quem é Jesus. O episódio de hoje é o terceiro milagre recordado em vista desse objetivo. A situação do leproso é de marginalidade. Essa situação era mais grave no tempo de Jesus, pois tudo girava em torno do puro/impuro. Quem controlava esse rígido código de pureza eram os sacerdotes. Cabia a eles declarar o que podia ou não podia ter acesso a Deus. De modo que, segundo eles, Deus estaria sob o controle dos sacerdotes e do código de pureza.

O leproso certamente sabia disso. Sabia também que sua vida – e sua libertação da marginalidade – não dependiam do Templo e dos sacerdotes, pois estes só constatavam a cura ou a permanência da doença em seu corpo. Diante disso, o leproso toma uma decisão radical: não vai ao sacerdote, e sim a Jesus. Ajoelha-se diante de Cristo e pede: “Se quiseres, podes curar-me”. Reconhece que o poder da cura que o tira da marginalidade não vem da religião dos sacerdotes, e sim de Jesus. Notemos outro aspecto importante: em vez de ficar à distância e gritar sua marginalização, aproxima-se e manifesta sua adesão ao Senhor Jesus, por reconhecer n’Ele a fonte de libertação e vida: “Se quiseres, podes curar-me”. Viola a lei para ser curado.

Jesus quer curar o leproso de sua marginalização, devolvendo-lhe a vida. Para os homens daquele tempo, curar um leproso era sinônimo de ressuscitar um morto. Mas a ação do Senhor é precedida por uma reação. De acordo com a maioria das traduções, a reação de Cristo se traduz em compaixão. Algumas traduções, porém, em vez de ler “compaixão”, leem “ira”. Jesus teria ficado furioso. Não certamente contra o leproso, mas contra o código de pureza que, em nome de Deus, marginaliza as pessoas, considerando-as como mortas.

De fato, acreditava-se que a lepra fosse contagiosa. Cristo, dessa forma, quebra o código de pureza ao tocar no leproso. Com isso, de acordo com o sistema religioso vigente, Ele torna-se impuro: torna-se leproso e fonte de contaminação. Por exemplo segundo o livro de Levítico 5,5-6, além de ficar impuro, Jesus deveria oferecer um sacrifício! Torna-se marginalizado e não poderá mais entrar publicamente numa cidade: deverá ficar fora, em lugares desertos, como os marginalizados. O Filho de Deus foi morar com os marginalizados.

Aqui o Evangelho de Marcos mostra quem é Nosso Senhor Jesus Cristo: é Aquele que rompe com os esquemas fechados de uma religião elitista e segregadora, indo habitar entre os banidos do convívio social.

Curado o leproso, Jesus o expulsa. É esse o sentido da expressão “o mandou logo embora”. A expressão é forte e, ao mesmo tempo, estranha. Mas não é estranha se a lermos na ótica da ira de Jesus contra o código de pureza que marginaliza as pessoas: Cristo não quer que elas continuem vítimas de um sistema social e religioso que lhes rouba a vida.

Jesus dá uma ordem ao curado: “Não conte isso a ninguém! Vá, mostre-se ao sacerdote e ofereça o sacrifício que Moisés mandou, como prova para eles!” Tudo leva a crer que a tarefa da pessoa curada consiste não em divulgar o milagre, mas em colaborar para que o referido código de pureza seja abolido. De fato, ele deverá se mostrar ao sacerdote para que este constate sua cura. Sinal de que a cura não depende do código de pureza nem da religião do Templo. A expressão “como prova para eles” tem este sentido: o sacrifício serve como testemunho contra o sistema que o declarava um punido por Deus e banido do convívio social. O sacrifício tem, pois, caráter de denúncia e de abolição do código de pureza.

Não sabemos se a pessoa curada teve a coragem de testemunhar contra o sistema religioso que o mantinha na marginalidade. Marcos diz que o curado “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” ( id. 45a). A reação a esse anúncio é evidente: Jesus não pode mais entrar numa cidade, pois, segundo o código de pureza da época, está contaminado e é fonte de contaminação. Todavia, de toda parte o povo vai procurá-Lo, sinal de que está aberto um novo acesso a Deus. Deus, em Seu Filho, pode ser encontrado fora, na “clandestinidade”, entre os que o sistema religioso e social discriminaram.

Pai, dá-me forças para combater e vencer as forças do mal que impedem o Seu Reino acontecer na minha vida e na história humana.

Padre Bantu Mendonça

Fonte: Retirado do Blog do padre Bantu

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