22 Oct 2012

A vida não consiste em acumular riquezas

O Evangelho de hoje se inicia com uma séria advertência: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15)

Na realidade, Jesus usa em presente de infinitivo o verbo “exceder”. A tradução seria: “porque na realidade a vida de alguém não consiste em ter excesso de posses”. A vida não consiste em acumular riquezas. E, na continuação, Jesus explica o porquê desta afirmação que fará com que Paulo descreva a cobiça como uma forma de idolatria (cf. Cl 3,5).

No Evangelho, Jesus fala de um homem cujas terras produziram uma colheita copiosa: “Que farei, pois não tenho onde estocar semelhante riqueza?” Ele só pensou em si mesmo, para viver uma vida de descanso e prazer. Como diz o apóstolo Paulo em I Cor 15,32: “comamos e bebamos que amanhã morreremos”.

E com a finalidade que também propõe o livro do Sirácida: “encontrei descanso; agora comerei de meus bens” (11,19), aquele homem pensa em aumentar a capacidade de seus celeiros para ter uma vida fácil, sem preocupações, para descansar, comer, beber e gozar – como muitos fazem nos dias de hoje.

Uma solução mais fácil seria repartir o que não coubesse nos celeiros com os mais necessitados, ou vender a preço mais acessível o excedente. Seria uma maneira de ajudar a quem não tem e cumprir com o que Tobias recomendava a seu filho: “Dá esmola de tudo que te sobrar e não sejas avaro na esmola” (Tb 4,16).

Num caso de justiça Jesus é interpelado. Mas Jesus recusa ser juiz. A justiça, considerada do ponto de vista humano, é falha e deixa muito a desejar. No litígio, os homens enfrentam uma guerra que mata não os corpos mas a amizade e o amor. Por isso, Jesus dirá: “Assume uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás no caminho, para não te acontecer que teu adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e assim, sejas lançado na prisão” (Mt 5, 25).

Porém, “a caridade não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” (I Cor 13,5-6). De fato, todas as revoluções em nome da justiça, da igualdade e da liberdade têm sido extremamente cruentas e abundantes em mortes humanas. Muitas buscam a desforra e a vingança. Por isso, todas as encíclicas sociais terminam com a mesma advertência: a justiça deve ser temperada pela caridade que é a que tem a última palavra nas relações sociais.

Talvez não tenhamos em conta que num mundo tão injusto como o romano, de escravos e cidadãos diversamente classistas, Jesus nada disse a respeito. Porém, a ênfase evangélica está na justiça divina para a qual Lucas deixa a definitiva sentença, como o “Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação!” (Lc 6,24).

O problema da desigualdade – para não dizer péssima distribuição das riquezas – tem como solução uma voluntária redistribuição das mesmas, de modo que os mais ricos enriqueçam os mais pobres com as riquezas que para eles sobram e para estes faltam. A chamada esmola deve ser considerada como uma necessidade voluntária de distribuição das riquezas.

Mais do que condenar os ricos, devemos pregar a pobreza voluntária, desterrando a ambição como programa humano e oferecendo a simplicidade e austeridade de vida como objetivo evangélico e ideal social.

Padre Bantu Mendonça


Pai das Misericórdias

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