02 Nov 2011

A comunhão com o Deus dos vivos e dos mortos

Nós não podemos nos esquecer dos mortos, porque são eles quem verdadeiramente vivem. Fazemos memória dos mortos, porque com eles estabelecemos uma comunhão única, somente possível pelo mistério da graça e só vivencial no amor que Deus nos tem, porque Ele é Deus dos vivos e dos mortos.

A celebração da Missa pelos defuntos não é uma moda de agora. A (infeliz) moda atual é ignorar o valor da Missa pelos defuntos. Tal desconhecimento deve-se à vontade de ignorar o acontecimento sempre trágico e traumático que é a morte. Perante ela nasce mais depressa a revolta: “Por que Deus não fez nada?“, e a incompreensão: “Se alguém deveria morrer, não era ele!”.

É fé da Igreja que a Missa se oferece pelo perdão dos pecados – e outras necessidades – dos fiéis vivos, mas também pelos defuntos.

A memória dos defuntos é hoje um dos centros psicológicos da Missa. É consensual e até necessário mencionar publicamente os seus nomes. Na verdade, a morte possibilita que nos abramos completamente Àquele que nos fez viver na terra. Tanto assim que, quer os vivos quer os mortos, comungam o mesmo mistério da graça: a incorporação em Cristo no Seu Corpo Místico. É por isso que, vivos e mortos, verdadeiramente nos encontramos na Eucaristia.

Excetuando a memória terna que dos mortos fazemos na oração da Igreja, é bem sabido que a nossa época se esforça por esquecer publicamente a agonia e a morte. É assunto por demais desagradável e inibidor para os de hoje. Será por que nos recorda os nossos limites? Será por que um dia nos tocará? Será por que nos disseram que seríamos “quase deuses intocáveis” e, afinal, pereceremos como os outros? Será que a morte, para além da separação, parece uma derrota? Será por que na morte não vimos um sinal da presença do amor de Deus? Será “por isto”, será “por aquilo” ou “por tudo”?

É verdade que aquilo que nos afasta da comunhão espiritual dos mortos nos afasta também da poderosa força da mensagem cristã da ressurreição. Quem perde uma perde a outra também.

A fé cristã se exprime na comunhão do cristão com Deus, na comunhão dos crentes entre si e também na comunhão dos vivos com os mortos. Entre os fiéis vivos e os fiéis defuntos existe uma solidariedade da qual ambos se beneficiam.

Quando rezamos: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno entre os esplendores da luz perpétua; que descansem em paz. Amém”, estamos a rezar aquela mesma palavra de amor que nossos irmãos mortos pronunciam sobre nós desde a plenitude de Deus, e que é: “Depois das lutas, da vida, dai, Senhor, a estes irmãos a quem como nunca amamos no Vosso amor, o descanso eterno e que a Vossa luz igualmente brilhe sobre eles”.

Essa é a comunhão plena dos santos, aquela que ansiamos, que professamos e que já vivemos, embora a partir da perspectiva da fé, não do amor pleno e definitivo.

A Eucaristia é memorial da Paixão e Morte de Jesus. Essa é a razão pela qual ela é o lugar onde melhor podemos recordar os mortos. Ali, recordamos a morte do Rei da vida e professamos a sua ressurreição. Por isso, a recordação da morte dos nossos defuntos é também a da ressurreição. É desumano não fazer memória dos mortos.

Celebremos, pois, a Eucaristia com a certeza de que nela se reatualiza a Nova Aliança. De que por ela nos aproximamos confiadamente de Deus, de que nela fundamentamos a nossa existência, conferimos-lhe densidade e renovamos a comunhão com Deus e os irmãos, isto é, retomamos o projeto inicial de amor no qual Deus nos criou.

Padre Bantu Mendonça

Pai das Misericórdias

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